Caetano Veloso volta a Porto Alegre para três noites de casa cheia. Ele sobe ao palco do Auditório Araújo Vianna nesta sexta-feira (8), sábado (9) e domingo (10), sempre a partir das 21h. Com ingressos esgotados para os dois primeiros dias, só restam poucas entradas para a apresentação de domingo.
O cantor desembarca na capital gaúcha com a turnê de seu disco mais recente, Meu Coco, lançado no ano passado. No álbum, Caetano promove uma afirmação da pluralidade brasileira, além de emitir um forte discurso político mirando o presente e o futuro do país.
Por exemplo, Não Vou Deixar parece reivindicar um Brasil que tem se perdido ("Não vou deixar você esculachar/ Com a nossa história"). Já Enzo Gabriel vislumbra uma esperança para o futuro, partindo da ideia de que este foi o nome mais registrado de bebês no país em 2018 e 2019. Mas também há espaço no disco para momentos ternos (Autoacalanto) e íntimos (Ciclâmen do Líbano).
A turnê intitulada #MEUCOCO estreou em Belo Horizonte, no último final de semana, com três shows lotados. No repertório, Caetano apresenta mais de 20 canções de diferentes fases da carreira — o que inclui Odara, O Leãozinho, Lua de São Jorge, Baby (que ganhou o mundo na voz de Gal Costa), A Bossa Nova é Foda, You Don't Know Me, entre outros clássicos.
Do último disco, sete músicas têm entrado no setlist. Em entrevista a ZH, Caetano falou das canções de Meu Coco, dos 80 anos que completa em agosto e das cinco décadas de Transa.
Ciclâmen do Líbano é uma faixa terna e sexual, como você já descreveu em entrevista. Como foi a concepção dessa música?
Nasceu da lembrança de um amor. E da palavra "ciclâmen" (assim pronunciada) repetida por meu irmão Rodrigo quando eu era menino. Era o nome de uma flor. Mais recentemente vi na internet imagens da flor, que dá principalmente em regiões do Líbano. A pessoa a quem a canção se refere tem ascendência libanesa. Para mim, resultou na faixa mais bonita de se ouvir no disco. Com a base que armei com Lucas Nunes e o som extraordinário das cordas de Jaques Morelenbaum.
Anjos Tronchos traz reflexões sobre a distopia digital que vivemos. Como surgiu seu interesse por essa temática?
Essa imagem dos anjos tronchos do Vale do Silício ficava voltando à minha cabeça. Eu não acompanho redes sociais, não entendo muito dos assuntos ligados à internet. Assim, pensava que a canção que se insinuava em minha cuca era impossível de ser feita. Mas pequenos novos pensamentos, pequenas novas frases, na verdade versos, iam se somando aos iniciais. Depois de umas duas semanas vi que, entre as músicas que já estava gravando, essa crescia como eu nunca esperaria. Ganhou letra longa e não necessariamente irrelevante. Com o disco pronto, ela terminou virando o primeiro single a ser lançado. Chamei Pedro Sá pra tocá-la porque achei que a secura dos enunciados pediam som de banda Cê. É distópica, mas há clarões como o amor feito tela a tela e a menção aos poemas de Augusto de Campos.
Sua preocupação com o meio ambiente tem se intensificado nos últimos anos. Em 9 de março, você estava na linha de frente do Ato Pela Terra. Quais são os próximos passos contra o chamado "pacote da destruição" (termo utilizado por ambientalistas para se referir a um conjunto de projetos que flexibilizariam o rigor sobre a proteção da Amazônia, afrouxariam o uso e registro de agrotóxicos e liberariam a mineração em terras indígenas)?
Darei os passos que me forem possíveis, chegando aos 80. Na introdução à edição comemorativa do livro Verdade Tropical, escrevi que o tema do meio-ambiente se impunha sobre os demais. Não quero ser ingênuo e reconheço que isso pode ser uma arma entre outras na evidente guerra de predomínio geopolítico que atravessamos. O Ocidente liberal será superado por um novo e mais sábio equilíbrio ou os planos de dominação compreendem um jogo com a destruição semicontrolada?
Você se mantém ativo diante dos debates públicos, dialoga artisticamente com as novas gerações e mantém o frescor em sua produção musical. Em agosto, chega aos 80 anos. Como você se sente na iminência de completar oito décadas?
Nunca me senti bem fisicamente. Nunca. Mas conheço alegrias, felicidades e prazeres intensos. A velhice traz limitações maiores, mas a curiosidade sobre o acontecimento da vida por vezes olha com prazer intelectual e emocional até nessas desvantagens.
Falando em aniversário, Transa completou 50 anos em janeiro. Como este disco ressoa hoje para você?
Amo muito Transa. Sem (quase) nunca ouvi-lo. Serei sempre grato a Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Aureo de Souza por terem ido até Londres gravar esse disco que foi feito para o mundo exterior, mas que só um brasileiro pode entender.
#MEUCOCO – CAETANO VELOSO
- Sexta-feira, sábado e domingo, a partir das 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Oswaldo Aranha, 685)
- Abertura da casa: 19h
- Classificação: livre
- Ingressos: entre R$ 210 e R$ 1 mil para domingo pelo site sympla.com.br. AS entradas para sexta e sábado estão esgotadas.