Desde seus 20 anos, Roberto Frejat, hoje com 59, não sabe o que é ficar longe da estrada. Só ao lado do Barão Vermelho, banda da qual saiu em 2017, foram 35 anos percorrendo o país. Mas a correria cessou em 2020, com a chegada da pandemia, justamente quando o músico estava prestes a lançar seu primeiro álbum de inéditas em mais de 10 anos, Ao Redor do Precipício, sedento por correr os mais variados palcos com o novo trabalho. Não deu.
Foram quase dois anos sem sentir o calor do público. Frejat só voltou a se apresentar no final do ano passado, de forma tímida, em eventos privados, a fim de zelar pela sua saúde e das pessoas que trabalham ao seu lado. Será agora, no show marcado para esta sexta-feira (18), às 21h, no Auditório Araújo Vianna, a volta oficial do roqueiro aos circuito dos grandes palcos.
— Bateu uma frustração porque o processo com o qual eu estava acostumado, que para mim sempre funcionou, era preparar um disco, gravá-lo e depois ir para a estrada apresentá-lo. Isso acabou não acontecendo. Só que agora que estamos voltando, também não faz sentido voltar com um show que está apresentando um trabalho novo sendo que as pessoas não me veem há tanto tempo. Até aquilo pelo que elas me conhecem há um tempão já virou novidade, depois de todo esse tempo sem a gente se encontrar. Então, esse será um show de sucessos — adianta o músico, prometendo que o espetáculo dedicado ao novo repertório ainda deve acontecer e, se depender dele, também passar por Porto Alegre.
Clássicos de sua carreira solo, como Segredos, Amor pra Recomeçar, Túnel do Tempo e Eu Preciso te Tirar do Sério, dividirão o palco com sucessos eternizados pelo roqueiro e o amigo Cazuza no Barão Vermelho: Codinome Beija-Flor, Bete Balanço, Exagerado, Puro Êxtase, entre outros. Para o músico, esse é o espetáculo perfeito para um reencontro, pois reúne todos os diferentes momentos de seu trabalho em um único repertório. É, assim, uma celebração à carreira construída por ele até aqui.
E celebrar junto ao público gaúcho, garante o roqueiro, traz um quê a mais de alegria:
— Eu adoro tocar no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, especialmente. Tenho muitos amigos, o rock gaúcho é um rock que me agrada demais, o público sempre me recebeu muito bem, a cidade tem um astral do qual eu gosto... Realmente adoro tocar em Porto Alegre. Estou muito feliz por poder voltar a tocar para um público que sempre me recebeu muito bem e no Araújo Vianna, que é um palco que eu gosto.
Momento difícil
Apesar do puro êxtase pelo retorno à estrada, Frejat mostra-se receoso pelo atual momento do país em relação ao fazer artístico. É, segundo ele, o pior período histórico para se ser artista no Brasil — e muito disso em razão dos constantes ataques proferidos justamente por instâncias que deveriam zelar pela valorização de seus artistas e da arte nacional.
— No que depende do Estado, a gente nunca esteve tão mal. Nem em plena Ditadura estivemos tão mal. Eu vivi a Ditadura e posso dizer que nunca tivemos uma visão tão antagônica do Estado brasileiro em relação à arte. É muito triste ver isso acontecer, porque muitas vezes há pessoas jovens envolvidas. Você ver um jovem indo contra a arte é muito triste — afirma o músico.
Como resultado desse antagonismo escancarado, o roqueiro viu surgir uma legião de cidadãos contrários a qualquer tipo de incentivo às manifestações artísticas. É a turma que gosta de chamar artista de vagabundo e critica, muitas vezes sem sequer entender, repasses como os da Lei Rouanet.
Mas apesar deles, o músico encontra em seu público o amor pra recomeçar.
— Percebo, como nunca vi antes, gente que não gosta de arte, que tem raiva de artista, que não gosta de nada que seja libertário, progressista ou criativo. Nunca, dentro da minha experiência, foi tão explícito que algumas pessoas simplesmente não gostam de artistas. Por outro lado, tem quem gosta de consumir e desfrutar da arte. Graças a essas pessoas é que a gente continua seguindo.
Seguindo, os próximos passos do roqueiro incluem uma turnê ao lado do filho, Rafael Frejat, e do músico Maurício Negão, e uma nova volta pelo país para apresentar o repertório do álbum Ao Redor do Precipício. O que não deve acontecer, garante, é seu retorno ao Barão Vermelho — ainda que, segundo o músico, o rompimento com a banda tenha sido pacífico:
— Decidi sair sabendo que a decisão era muito difícil, justamente porque sair era sair para não voltar.
Frejat em Porto Alegre
- 18 de março, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685)
- Ingressos a partir de R$ 200, disponíveis na plataforma Sympla
- Sócios do Clube do Assinante RBS têm 50% de desconto no valor do ingresso, com acompanhante