O rapper porto-riquenho Residente lançou, na sexta-feira (22), o clipe de This is Not America, no qual faz referências a protestos e atos de violência na história da América Latina. Chamou a atenção de diversos países da região, mas do Brasil em especial, já que existe uma cena aos 2min26seg que parece fazer alusão ao presidente Jair Bolsonaro. Agora, em entrevista divulgada pelo O Globo, o artista confirmou a referência e disse que "trataram de encontrar alguém parecido com ele".
— Na América Latina, em geral, há muitos presidentes que fazem o mesmo que ele faz, que é limpar a boca com as bandeiras dos seus países. Para mim, isso não é uma questão de atacar a direita ou a esquerda, é a de que existem governantes que não se importam com seus países, e isso tem que ser denunciado. Isso é o que acontece na Nicarágua, em Cuba e na Venezuela, algo que não apoio. São vários presidentes, mas como não podíamos botar todos no clipe, escolhemos o campeão — explicou ao jornal.
Na cena, um homem branco e loiro se alimenta de um prato à base de carne, enquanto uma criança indígena olha. Depois, ele limpa a boca na bandeira do Brasil.
A música é um duo com o franco-cubano Ibeyi, e faz uma clara referência a This is America, de Childish Gambino. A música do americano também traz críticas, mas referentes à história da escravidão e do racismo nos Estados Unidos. Já parte da letra de Residente diz:
“A América não é apenas os Estados Unidos, papai / É da Terra do Fogo ao Canadá”
— Minha canção não é necessariamente uma resposta a This is America, mas uma forma de fazer com que Gambino saiba o que faltou nela acerca do tema. Vejo mais como se eu fosse um irmão a ajudá-lo, apresentando-o a essa realidade — explicou o rapper.
O músico contou que segue tentando conseguir contato com Gambino. Ainda, deixou claro que crê na mudança da utilização da palavra "América" para se referir apenas aos Estados Unidos.
— Hoje em dia, em que estão modificando as palavras e as gerações mais novas estão educando as mais velhas, creio que será possível — afirmou.
O estrondoso sucesso fez com que fãs buscassem as referências históricas mostradas no clipe. Entre elas, está a lembrança de que um dos maiores nomes do rap dos Estados Unidos, Tupac Shakur (1971-1996), recebeu seu nome em homenagem a Tupac Amaru, um líder indígena peruano que comandou uma insurreição contra a metrópole espanhola.
Além disso, mantém viva a memória do cantor e compositor chileno Victor Jara, que teve as mãos decepadas pela ditadura chilena de Augusto Pinochet, à resistência feminina do movimento zapatista mexicano e ao massacre de Iguala, também no México, quando 43 estudantes foram assassinados.