Em Partiu, Humberto Gessinger canta: "Agora vai/ Sai a zica, fica azul o céu/ Agora vai/ Sai pra rua, solta a tua voz". A faixa do último disco do músico, Não Vejo a Hora (2019), soa como emblemática ao pensar no seu reencontro com os palcos em meio ao arrefecimento da pandemia. O artista volta a soltar a voz e a encarar seu público neste sábado (13), a partir das 21h, no Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
Na apresentação, Gessinger estará acompanhado de Felipe Rotta (guitarra) e Rafa Bisogno (bateria), além da participação do instrumentista Nando Peters, que tocará cravinha. O repertório será focado em Não Vejo a Hora, mas também trará clássicos dos Engenheiros do Hawaii e de sua trajetória solo.
Depois de Porto Alegre, Gessinger parte para se apresentar em mais três cidades: Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O músico está retomando a turnê de Não Vejo a Hora de onde parou, já que disco teve sua divulgação interrompida pela pandemia. Aliás, seu objetivo para 2022 é seguir pegando a estrada.
— Não esperei seis anos para lançar um disco e deixá-lo pelo caminho — pontua.
Gessinger reconhece que cada vez leva mais tempo para lançar um álbum de inéditas — o anterior foi Insular (2013). Entre as suas atividades como músico, a composição tem ficado no final da fila. Nos últimos tempos, ele se dedica mais a arranjos, instrumentação e a revirar suas canções.
— Isso tem me dado mais prazer do que composição. Tenho até que começar a prestar mais atenção, pois tenho ideias novas e nem anoto. Está ficando perigoso (risos) — relata.
Originalmente, Não Vejo a Hora trabalha com dois formatos: um power trio e um trio acústico. Ao longo da pandemia, Gessinger passou a enxergar outras possibilidades para aquelas canções. Agora, ele está preparando um EP com faixas remixadas do disco. As novas versões de Estranho Fetiche / Fetiche Estranho e Maioral foram lançadas em outubro deste ano.
Essa ressignificação de suas músicas também está relacionada ao período da quarentena em que Humberto renovou sua sensibilidade musical. Segundo ele, a estrada o "embruteceu", até pela quantidade de viagens que realizava. De 2020 para cá, ele nunca havia ficado tanto tempo sem shows — a última vez tinha sido em 2004, quando fechou a agenda para preparar o acústico da MTV. Restou ao músico conversar mais calmamente com seus instrumentos.
— Naquela correria da estrada, sempre tocava com muita gente e volume. Comecei a tocar em casa e sozinho. O silêncio passou a fazer mais parte da minha vida do que antes. Isso acabou me ressensibilizando — frisa.
A quarentena também foi um período para Gessinger promover lives caseiras. Foi uma fase de maior aproximação com seus fãs pelas redes sociais, em que publicava vídeos reinventando canções de seu repertório. Contudo, ele levou um susto no início:
— Era só postar alguma coisa, e a maior parte dos comentários falava sobre as meias que eu usava (risos). Virou um case! Depois tu te dás conta: "Claro, ninguém nunca tinha me visto de meia!" — diverte-se e, em seguida, reflete sobre a proximidade com os fãs. — É como quando tu és criança e falta luz. Não tem mais brinquedo para se distrair, e tu pegas uma vela para moldar sombras na parede. Aquilo se torna melhor que um filme. Foi meio isso: faltou luz e nos aproximamos. A escuridão junta as pessoas, pois a noção de espaço se perde quando está escuro.
A partir deste sábado, Gessinger volta a ser iluminado pelas luzes do palco. Seu último show foi no dia 14 de março de 2020, em Taguaí, no interior de São Paulo. O músico lembra que era um momento de incertezas, que ninguém sabia bem o que estava acontecendo, muito menos o que estaria por vir. Ele recorda que saiu de casa tranquilo, mas ao chegar no aeroporto soube que a capital paulista começava a se fechar. Gessinger compara aquele momento com a abertura do seriado Agente 86: a cada passo dado por ele, as portas se fechavam atrás.
Ainda assim, havia a impressão de que a pandemia seria breve. Gessinger lembra quando teve maior noção do problema: no dia em que um caminhão levou seus equipamentos para a casa, algo que não ocorria há anos.
— Não tem coisa mais triste no mundo do que um equipamento dentro do case (estojo). A guitarra não foi feita para isso — lamenta.
Humberto Gessinger - Não Vejo a Hora
Sábado (13), a partir das 21h, no Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Abertura da casa: 19h. A organização do show recomenda ao público chegar com antecedência e com ingresso, documento e comprovante de vacinação em mãos. Também alerta que a entrada estará mais lenta em função das conferências.
- Classificação: 16 anos.
- Ingressos: entre R$ 180 e R$ 340 pelo site Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante