Quem circula pela redes sociais provavelmente já viu comentários sobre a música lo-fi. Com ritmos lentos, ausência de letras e melodias em looping, o movimento se popularizou em playlists para dormir, acordar, estudar, trabalhar, jogar e até transar.
O sucesso aumentou na pandemia, quando a ansiedade do isolamento social afetou muitas pessoas. Além disso, o estilo é considerado uma tendência para 2022 pelo Google.
Para se ter uma ideia dos números, a transmissão ao vivo lofi hip hop radio - beats to relax/study, no YouTube, estava sendo acessada simultaneamente por 35 mil usuários no fechamento desta matéria.
O estilo de vida ocasionado pela pandemia também está na origem do lo-fi. O termo vem de "low fidelity", que se refere a músicas experimentais, geralmente gravadas, mixadas e a masterizadas de forma caseira. Para a composição, os produtores lançam mão de samples, trechos de músicas pré-existentes, e sons que estimulam a nostalgia, como barulho de chuva e ruído de vinil.
A estética do lo-fi vai além das músicas e geralmente faz referência à geração millenial. A capa do canal no YouTube Lofi Girl, o principal do gênero, por exemplo, apresenta uma menina cabisbaixa, fazendo anotações em seu caderno, de frente a uma janela para a cidade, em um estilo que lembra os mangás de Hayao Miyazaki, autor de A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado.
A ilustração, assinada pelo colombiano Juan Pablo Machado, se tornou um fenômeno, servindo de inspiração para releituras que adaptam o original com novos cenários e elementos — a menina brasileira, por exemplo, é negra e tem um cachorro caramelo.
Lo-fi brasileiro
As músicas lo-fi geralmente são lançadas em forma de singles e divulgadas em playlists e rádios virtuais. No Spotify, por exemplo, a coletânea lofi beats, com curadoria diária, tem 4,3 milhões de curtidas.
Também há subgêneros dentro do lo-fi como o chill e dreamy. No Brasil, o selo Tangerina Music, que reúne canções com toques de bossa-nova e samba, recebe em média 400 produções por semana, segundo o produtor Fábio Bittencourt, em entrevista à revista Super Interessante.
Criada em 2019, a Tangerina lançou, neste ano, o primeiro álbum de lo-fi 100% brasileiro, a coletânea Chill Brazilian Storm. Em julho, eles produziram o documentário Lo-Fi Hip Hop: Beats & Sentimento, que aborda o crescimento da cena lo-fi no país. A produção está disponível no YouTube.
— O público brasileiro cresceu muito e agora as pessoas estão entendendo que são artistas por trás. É uma cena muito orgânica, que chegou ao mainstream — disse Bittencourt ao jornal O Globo.