Há 70 anos, a Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre iniciava uma luta pelo seu próprio espaço. Entre idas e vindas, conseguiu, em 2018, montar a Casa da Ospa no Centro Administrativo Fernando Ferrari. A administração ficou a alguns bairros de distância, no Moinhos de Vento. Mas o capítulo que se desenrolou no último dia 10 marca o prelúdio do fim de uma longa batalha: ao vencer um edital do Ministério Público, a instituição arrecadou recursos para se consolidar como uma referência tanto em música quanto em inclusão social.
À disposição da Fundação estão R$ 4,69 milhões vindos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do Ministério Público e que devem ser executados em até 12 meses. A Fundação irá usar o recursos em três frentes: última etapa de obras do complexo Cultural-Educativo da Casa da Ospa, com a construção de um espaço de trabalho, ensaio e preparação para os grandes grupos da Escola da Ospa; centralização da ação da Fundação Ospa dentro do Centro Administrativo, levando a administração e a musicoteca para o local; e obras de melhorias no saguão da Casa da Ospa.
— É difícil mensurar a emoção. Eu completei 30 anos de Ospa neste ano e me angustiei por muitos anos por não ter um espaço minimamente adequado para poder trabalhar — diz Evandro Matté, maestro e diretor artístico da Ospa. — Lembro que teve um ensaio, há muitos anos, que fizemos dentro de um salão paroquial, onde não tinha a mínima condição. No meio do ensaio, o pessoal da cozinha do salão tinha que fazer comida. E aquela fumaça entrava, era um cheiro que quem tocava sopro não tinha como respirar e tocar junto. Era um maestro excepcional japonês, uma solista da Europa, era uma situação vergonhosa que a gente estava. Saber que vamos ter um espaço que provavelmente vai ser um dos melhores da América Latina, a felicidade… é um pouquinho difícil de descrever.
Futuro
Outro ponto do projeto é a construção de um memorial para contar a história da Ospa, com totens, telões e arquivos históricos.
— Temos, por exemplo, partitura com dedicatória do Heitor Villa-Lobos. Nós temos muitas coisas que foram muito bem guardadas dentro da Ospa, mas foram expostas pouquíssimas vezes. A Ospa na década de 1970, quando as grandes companhias de ópera e balé vinham para Argentina e Uruguai, elas contratavam a Ospa para acompanhá-las, principalmente no Brasil. A Ospa foi a primeira orquestra no país a fazer uma turnê por todas as capitais brasileiras e sempre foi uma das grandes orquestras da América do Sul — explica Matté.
Há também a necessidade de instrumentos para a Escola da Ospa, que é gratuita e voltada para a profissionalização de músicos, e para própria orquestra sinfônica. Com a aquisição dos equipamentos, será possível implementar um novo programa, o Ospa Social, direcionado a jovens em situação de vulnerabilidade.
— É um projeto de entrada na escola para crianças que não têm o conhecimento de música, mas que estão em uma situação que seria importante elas terem contato com atividades no contraturno da escola — aponta o diretor artístico.
Em decorrência da pandemia, explica Matté, seguiram as obras que estavam sendo executadas com fundos da Lei Rouanet e da Lei de Incentivo à Cultura. Ainda sem previsão da retomada dos concertos ao público presencial, Matté já vislumbra 2021. A programação vai replicar parte do que não foi feito neste ano devido à pandemia. Atualmente, a orquestra oferece apresentações via transmissões online. A dúvida é se no ano que vem os espetáculos digitais serão mantidos quando a casa voltar a receber visitantes.