Sucessos das décadas passadas seguem na playlist de muitos nostálgicos de plantão. Anos depois, no entanto, a interpretação de algumas dessas faixas ganharia outro sentido, considerando os avanços no debate sobre empoderamento feminino e direitos LGBT+, por exemplo.
Por isso, alguns desses hits talvez não fossem aceitos em 2020. Abaixo, GZH lista alguns exemplos de músicas que envelheceram mal:
2345meia78 - Gabriel O Pensador
Sem ter companhia para o fim de semana, o personagem da canção vai para o orelhão tentar marcar um encontro. "Com o nome e o número de um monte de mulher / E ele vai ligar pra todas", diz um trecho, afinal, ele só está interessado em "molhar o biscoito". Assim, a canção acaba tratando da objetificação da mulher: "Meu caderninho de telefone parece um cardápio".
Barbie Girl - Aqua
Canção regravada por Kelly Key no Brasil, Barbie Girl fala sobre uma mulher que é uma "loira boba" ("I'm a blond bimbo girl"), um estereótipo de piadas ultrapassadas. Além disso, traz a ideia de que o mundo é "de plástico", artificial, que permite que o homem (o Ken, no caso) faça o que quiser com ela: "You can brush my hair, undress me everywhere" ("Você pode escovar meus cabelos, me despir em qualquer lugar").
London Bridge - Fergie
A objetificação também é uma mensagem de Fergie em London Bridge. Com uma batida chiclete, a canção fala sobre mulheres "que dançam como uma vadia" e que podem fazer sexo tranquilamente, todas as vezes que o homem se aproxima, principalmente quando "os drinks começam a subir" e "a fala começa a ficar lenta".
Você Pode (Descontrolado) - Pixote
Um relacionamento abusivo que diz quando e como a mulher deve estar. "Me negar teu sorriso / Quando eu te encontro, Não pode! / Mas dizer que me ama e pronto, você, só você, você pode", diz a letra.
Me Lambe - Raimundos
A pedofilia está explícita nesta canção dos Raimundos, que fala sobre um homem que tenta de tudo para se envolver com uma menor de idade. "Me dê agora seu telefone, outro dia a gente se liga / Eu quero te levar pra onde dá um frio na barriga / Me fala a verdade, quantos anos você tem? / Eu acho que com a sua idade / Já dá pra brincar de fazer neném", diz ele para a adolescente de 17 anos.
Em junho deste ano, o baixista Canisso falou sobre a música no Twitter. Ao responder uma seguidora que disse que a banda não deveria alterar seu repertório por causa da "chatice do mundo", ele afirmou que "algumas são besteiras inofensivas, todo mundo sabe e ‘perdoa’. O caso de Me Lambe é diferente. Apesar de ser zoeira, ela toca num ponto bastante complicado. Pessoas se ofendem, não traz nada de bom… o mundo mudou, eu mudei também". Em outra postagem, ele comentou que Me Lambe é a única música dos Raimundos que realmente tem um problema e que "envelheceu bem mal".
Maria Chiquinha - Sandy e Junior
A letra mostra o imenso controle que Genaro exerce sobre Maria Chiquinha. Ele diz que vai cortar a cabeça dela e que irá "se aproveitar do resto", depois de uma série de perguntas sobre o que ela teria ido fazer no mato e com quem.
Em show da turnê Nossa História, no ano passado, Junior protestou contra o machismo e sugeriu um novo final:
— Isso aí não é mais aceitável... Deixem a Maria Chiquinha em paz! Ela pode fazer o que quiser no mato — afirmou o cantor.
You Can't Do That - The Beatles
Algumas letras do Beatles já foram consideradas misóginas por Paul McCartney e John Lennon. Um caso claro é You Can't Do That, em que um homem parece ameaçar uma mulher quando ela conversa com outro garoto. "Eu tenho algo a dizer que pode lhe causar dor / Se eu pegá-la falando com aquele garoto novamente / Eu vou decepcioná-la / E deixá-la chateada / Pois eu já lhe disse / Você não pode fazer isso".
One In a Million - Guns N' Roses
A história retratada em One In a Million fala de "um garoto branco" de uma cidade pequena que tenta se descobrir como pessoa em uma metrópole. No local, ele demonstra ter aversão a negros, imigrantes e gays.
Minha sogra parece sapatão - Bezerra da Silva
Na composição de 1983, Bezerra da Silva fala sobre a sogra de uma forma ofensiva - chamando-a de "sapatão", um termo ofensivo inclusive dentro da comunidade LGBT+. "Ela bebe cachaça e fuma charuto, tem bigode e cabelo no peito. Eu não sei não, minha sogra parece sapatão", diz a canção.
Silvia - Camisa de Vênus
Nesta música de 1995, um aparente caso de traição é tratado com violência. “Vive dizendo que me tem carinho / Mas eu vi você com a mão no pau do vizinho / Ô, Silvia (Piranha), Ô, Silvia (Piranha) / Todo homem que sabe o que quer / Pega o pau pra bater na mulher", diz a letra.