Nem mesmo a pandemia do coronavírus afastou o professor Eric Hilgenstieler de seus alunos de contrabaixo. Integrante da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), o músico paranaense conduz, via videoconferência, os ensaios da primeira classe do instrumento para crianças do sul do Brasil. Apesar dos problemas de conexão e da qualidade de som por vezes distorcida, a criançada entre sete e 12 anos de Joinville, em Santa Catarina, segue firme e forte no estudo.
Natural de Curitiba, Hilgenstieler acabou se juntando aos pequenos por acaso. Bacharel em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), habilitou-se em contrabaixo com o professor Alexandre Ritter e estudou por sete anos nos Estados Unidos, ampliando seus conhecimentos na University of Southern Mississippi (USM). Em 2013, de volta ao Paraná, tornou-se o primeiro contrabaixista da Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa (a 115 quilômetros da capital) e participou da temporada 2016 da Camerata Antiqua de Curitiba. Nesse período, o Coree Music Institute, de Joinville, o convidou para montar a primeira classe do instrumento em que é especialista. Um ano depois, acabou passando no concurso da Ospa e veio de mala e cuia para o Rio Grande do Sul.
— O intuito era fazer ensaios para formar uma orquestra infantojuvenil, e a ideia foi se ampliando. Eu sempre tive mais experiência com jovens e adultos, alunos de 16 a 40 anos. Por isso, foi um desafio aceitar esse convite, especialmente pelo pioneirismo com crianças de sete a 12 anos. A primeira coisa que tive que fazer foi procurar um método que se adequasse às crianças, porque temos que cumprir um programa — conta Hilgenstieler, que viajava semanalmente para Santa Catarina só para conduzir as aulas.
Inspirado pelas linhas de ensino George Vance, em que os alunos cantam junto nas aulas, e Billé, que envolve marcações específicas que facilitam o aprendizado, o músico acredita que o interesse dos pupilos torna tudo mais fácil. Alguns deles são da rede pública de ensino e têm bolsa para estudar no local.
— Nunca imaginei que ia ver aqueles pequenos tocando um instrumento tão grande. Mesmo online, eles estão melhores ainda, porque estão mantendo o ritmo. É legal ver essa oportunidade de carreira que estão construindo — aponta o músico, que destaca o interesse do instituto em formar integrantes da orquestra juvenil.
O programa do curso contempla uma aula por semana, além dos encontros específicos da orquestra para apresentações e ensaios. Por conta da pandemia, a maioria das atividades foi suspensa, mas Hilgenstieler segue dando suas lições via aplicativo Zoom.
Disciplina
Para a criançada, mesmo sem o contato físico com o professor, as aulas seguem produtivas. Interessado em música desde os cinco anos, Eduardo Davi dos Santos, 11 anos, gostou do grave do contrabaixo, instrumento que deseja adotar para a sua carreira profissional.
— Eu me senti mais disciplinado, e estudar um instrumento precisa de dedicação, esforço e concentração. Estudar contrabaixo é um grande desafio. Por ser de acompanhamento, tem que ser preciso na marcação do tempo e no ritmo da música — aponta Eduardo, que sonha em estudar fora do Brasil.
A qualidade das aulas continua a mesma para Diego Miranda da Maia, 13, que ficou um pouco incomodado com a variação que a transmissão via celular causa para o som.
— A pandemia foi uma agravante na orquestra, como em qualquer grupo de câmara, e interrompeu muito a progressão do conjunto inteiro. Nós tínhamos preparado uma sinfonia para apresentar em agosto, mas não foi possível — lamenta Maia.
Já Gabriela Mastrocinque, nove anos, foi atraída para o instrumento em uma visita sem pretensões à escola. Tocou o contrabaixo e, apesar do seu tamanho, admirou a beleza do som.
— Depois das aulas, fiquei mais persistente e aprendi sobre música. Acho difícil estudar, mas como algumas pessoas dizem: “Tudo na vida fica fácil e, na sequência, difícil. Depois, volta a ficar fácil”. Acho que estou na parte difícil (risos) — diverte-se a menina.