Desde a morte de Prince, em 21 de abril de 2016, um sem-número de álbuns póstumos são esperados. Afinal, em algumas fases da vida, ele chegou a gravar até cinco músicas por dia em seu estúdio caseiro, em Chanhassen, Minnesota (EUA). Originals, que será lançado na sexta-feira (21) nas plataformas digitais, é mais uma amostra desse baú musical — o disco físico está anunciado para 28 de junho.
Em dezembro passado, foi apresentado o álbum Piano & A Microphone 1983, primeira amostra da garimpagem no baú do prolífico artista, consagrado na história da música pop com sua inventiva fusão de funk, rock e dance music. O trabalho agrupou nove canções gravadas por Prince em voz e piano, em 1983, no mesmo estúdio em que morreria, aos 57 anos, após a overdose acidental de um opioide. O registro intimista revelou versões embrionárias de futuros sucessos do músico, como International Lover, do disco 1999 (1982), e Strange Relationship, lançada em Sign O’ The Times (1987).
Originals é um registro mais amplo. Algumas das 15 faixas do álbum destacam canções de Prince que foram hits com outros artistas e agora aparecem na voz de seu autor. Manic Monday, que ele escreveu para Susanna Hoffs, do Bangles, não chega perto da pegada do hit mundial das meninas, em 1986.
Uma nova versão para “Nothing Compares 2 U”
Nothing Compares 2 U troca o acompanhamento orquestral da versão conhecidíssima de Sinéad O’Connor por percussão tímida, guitarra levemente distorcida e solo de sax. A canção é tão poderosa que resiste até ao formato capenga.
Love... Thy Will Be Done, gravada por Martika, vem como balada sacolejada e divertida. Em The Glamourous Life, que Prince fez para Sheila E., baterista de sua banda, ele usa sons orquestrais e muitas palmas para convidar à dança.
Parte do material bebe na fonte do funk mais agitado dos anos 1970. É o caso de Sex Shooter. Jungle Love se situa no quase batidão que ele fazia em algumas faixas do álbum clássico 1999.
Em 100 M.P.H., Prince toca uma guitarra insinuante, que vai costurando por toda a duração da música. Holly Rock é o tipo do funk para ser acompanhado por palmas. Gigolos Get Lonely Too e Wouldn’t You Love to Love Me também são funks animados. Make Up desemboca no eletrônico de raiz. Batida rápida, toda decorada com barulhinhos robóticos.
Mas há coisas fracas no pacote. Noon Rendezvous, que promete uma suruba na letra, é uma das faixas mais comportadas. Já You’re My Love é a música mais estranha de Originals. Uma balada pop meio arrastada, que Prince canta com voz grave, ela soa mais um rascunho do que uma canção terminada.
Baby, You’re a Trip, baladinha comum, cantada em falsete, e a quase rock Dear Michelangelo completam a coletânea. Não mereciam destaque, principalmente para um artista que deve ter um baú magnífico ainda escondido.