Além do próprio prazer da boa música, há um motivo a mais para se ir ao concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre marcado para sábado (1º/6), às 17h, na Casa da Ospa (no Centro Administrativo Fernando Ferrari, Avenida Borges de Medeiros, 1.501): a rara presença de uma maestrina na regência do concerto.
Na apresentação, parte da série oficial de concertos Pablo Komlós, a regência estará sob a batuta da maestrina Simone Menezes, brasileira de projeção internacional. Ela nasceu em São Paulo, em uma família de origem italiana – e também tem a nacionalidade do país europeu. Formou-se em música na Unicamp e foi aluna de John Neschling, nos anos 1990. Depois de uma temporada pela Europa, em Paris e Londres, voltou ao Brasil e assumiu a Orquestra Sinfônica da Unicamp e fundou a Camerata Latino-Americana, grupo composto por 15 renomados músicos e solistas brasileiros.
Desde 2016, Simone vive em Lille, no norte francês, e tem uma requisitada carreira como regente à frente de orquestras na França, em Portugal, nos Estados Unidos e no Leste Europeu. Ela se junta, assim, ao restrito rol de mulheres que já comandaram a Ospa como regentes convidadas em concertos oficiais, lista que inclui ainda a carioca Ligia Amadio, primeira mulher a reger um concerto de abertura de temporada da orquestra, em 2011, a gaúcha Alexandra Arrieche, em 2014 e a italiana Valentina Peleggi, em 2015 e novamente em 2016.
Que sejam todos exemplos desta década mostra algum avanço nos últimos anos em um dos terrenos ainda dominados pelo sexismo na música erudita. A presença de mulheres à frente de orquestras não é uma questão pacificada, a ponto de, há poucos anos, maestros europeus como Bruno Mantovani e Yuri Temirkanov terem declarado, para escândalo geral, que mulheres não estariam aptas às funções da regência.
— A regência ainda é um dos lugares na música em que se sofre por ser mulher, mas muitas coisas melhoraram. Minha geração é privilegiada nesse sentido em comparação com a de Marin Alsop (diretora musical da Orquestra Sinfônica de Baltimore e da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), por exemplo — declarou ela em entrevista à Carta Capital, em 2015.
O programa da noite inclui obras do brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), do francês Erik Satie (1866-1925) e do polonês Henryk Wieniawski (1835-1880). Peças mais recentes do que o repertório habitual de concertos, transitam da vanguarda ao romantismo. A apresentação deve abrir com os 1º e 3º movimentos das Gymnopédies, de Satie. Ligado à vanguarda parisiense do início do século 20, Satie foi um precursor do minimalismo, e os dois movimentos que serão apresentados pela orquestra dão uma boa mostra de seu estilo, marcado por dissonâncias.
Programa com peças do romântico ao minimalista
A seguir, será apresentado o Concerto para Violino Nº 2, Op. 22, de Wieniawski – considerado um dos maiores violinistas do século 19, seu trabalho, de orquestração refinada e vinculado ao romantismo, é composto de peças que valorizam o virtuosismo do instrumentista ou que são comumente usadas como material de ensino. Os solos ficarão a cargo do violinista e spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Davi Graton.
A segunda parte do programa reúne duas obras de Villa-Lobos. A primeira composição a ser executada será Sinfonietta Nº 1, composta pelo maestro brasileiro em memória de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Para encerrar o concerto, a sinfônica executa Bachianas Brasileiras Nº 7, que reúne diversos instrumentos de percussão e tematiza um grande compilado de objetos nacionais.
Villa-Lobos é um compositor de especial ressonância no trabalho de Simone Menezes, já que a maestrina está à frente do Villa-Lobos Project, que tem como objetivo ampliar o espaço do compositor — celebrado no Brasil, mas pouco conhecido no cenário mundial — no repertório de orquestras internacionais.
CONCERTO DA OSPA
- Sábado (1º/6), às 17h, na Casa da Ospa (Centro Administrativo Fernando Ferrari, Avenida Borges de Medeiros, 1.501).
- Ingressos entre R$ 30 e R$ 80.
- À venda em uhuu.com.