Wander Wildner tem uma filosofia de vida que se reflete de maneira clara em seu trabalho: acha que um artista não pode ficar parado — metafórica e literalmente. É por isso que o músico, que já foi hippie, punk e rajneesh, não firma pé em lugar nenhum: depois de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Berlim e Barcelona, Wander está há dois anos morando na Praia do Campeche, em Santa Catarina.
E são as águas do Oceano Atlântico, visíveis de sua janela, a inspiração para boa parte das composições recentes do músico gaúcho, que lança O Mar Vai Muito Mais Além no Meu Olhar — seu 12º disco em carreira solo — em show nesta quarta-feira, no Opinião.
— Eu tenho que viajar. O artista viaja. Já morei três vezes em Florianópolis, aqui é maravilhoso. Compus e gravei olhando o mar pela varanda, mas meu negócio é circular. Sou um nômade. Fico temporadas em lugares e em determinado momento resolvo, por algum motivo, ou por vários motivos, sair — conta Wander.
O Mar Vai Muito Mais Além no Meu Olhar, como não podia deixar de ser, transparece todo o ambiente do Campeche pelas lentes de um dos artistas mais inquietos e mutáveis do rock gaúcho.
Se Wander já foi desde um dos punks primordiais de Porto Alegre, à frente dos Replicantes, até o personagem do pistoleiro latino-americano romântico de seus primeiros discos solo, agora parece ter adotado a persona do trovador folk solitário que observa o cotidiano, como nas faixas A Dança de Tudo ("sou parte do mundo e sou também o meu próprio mundo"), O Sinal ("ela andava pela cidade distraída pensando na vida") e Caminando y Cantando ("si quieres, podes caminar conmigo, si no queres, ok, no hay problema, yo sigo caminando y cantando"), esta última uma composição inspirada no título de seu sexto disco dada de presente ao gaúcho por Santiago Guidotti, da banda uruguaia Monkelis, que fará o show de abertura na quarta.
Músico adotou novo processo de composição
O Mar... é também resultado de uma mudança na forma de trabalhar adotada por Wander recentemente. Há cerca de seis anos, quando a turnê de Caminando y Cantando (2010) já chegava a seu terceiro ano, o músico decidiu que precisava mudar:
— Era uma época em que eu não estava compondo nada. Pensei "putz, se eu não compuser, não tem sentido continuar cantando". Resolvi fazer algo que nunca tinha feito: tirei uma temporada e parei para compor um disco do início ao fim – conta, sobre o processo que acabou resultando em Mocochinchi Folksom (2013), primeiro disco de uma série de seis lançados em seis anos, período em que o músico mais produziu na carreira.
A coisa deu tão certo que Wander precisou se policiar: assim que gravou as sete faixas de O Mar..., já embalou em novas composições. Precisou puxar o freio de mão e focar na produção do show de hoje. O próximo disco fica para depois – possivelmente inspirado nas experiências de Wander em Portugal, para onde vai em junho.
É que o artista precisa viajar.
Wander Wildner — O Mar Vai Muito Mais Além no meu Olhar
Quarta-feira, às 22h.
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
Ingressos: R$ 50 (inteira, em primeiro lote) ou R$ 30 (promocional, em primeiro lote, mediante doação de 1kg de alimento não perecível).
Pontos de venda: Multisom do Shopping Iguatemi (sem cobrança de taxa), Multisom da Andradas da 1.001, Multisom Shopping Praia de Belas, Multisom BarraShoppingSul e site sympla.com.br. (com taxa).