Elton John começou a se despedir de Nova York no dia 18 de outubro, no Madison Square Garden, dando início a duas noites de shows. Foi a primeira parada local em sua turnê global de três anos, Farewell Yellow Brick Road, com um espetáculo que dura mais de duas horas e meia e mesmo assim não tem tempo para todos os seus sucessos.
Embora a música mais nova do set, Believe, tenha sido lançada em 1995, havia alguns fãs que nasceram depois disso cantando os sucessos que conquistaram a rádio pop americana no início dos anos 1970 e nunca desapareceram completamente. No mês passado, Young Thug lançou High, uma releitura (com a permissão entusiasta de John) de Rocket Man, de 1972.
Aos 71 anos, John já podia ter se aposentado há muito tempo. Ele faz turnês de shows desde 1969. Acumulou centenas de milhões de vendas e os prêmios que acompanham esses números e, além disso, já participou de sucessos musicais da Broadway (O Rei Leão, Billy Elliot). Em todos esses anos, foi adorado pelas multidões. Em 18 de outubro, seu discurso mais contencioso foi sobre como as empresas farmacêuticas "gananciosas" poderiam ajudar a acabar com a Aids.
Ele não pula mais em cima do piano nem joga as pernas para o alto enquanto martela o teclado do jeito que costumava fazer, como mostra uma montagem de vídeo com imagens de sua carreira, apresentada enquanto canta com orgulho, cada vez mais apropriado, sobre sua perseverança em I’m Still Standing. No entanto, permanece vigoroso, ainda tocando seus acordes energéticos e cantando com entusiasmo. Os músicos que estão com ele desde os anos 1970 – Nigel Olsson na bateria; Ray Cooper na percussão; e o líder da banda, o guitarrista Davey Johnstone – tocam com facilidade as peças de longa data.
Apesar de agora já parecerem familiares, os sucessos de John no fundo são excêntricos. Embora seja inglês, ele optou por basear profundamente seu som na música americana – gospel, boogie-woogie, blues, country, início do rock – tanto quanto nas tradições britânicas. As letras, em grande parte escritas por Bernie Taupin e depois musicadas por John, podem ser tão evasivas quanto Levon, ou tão contundentes quanto The Bitch Is Back; podem ser estudos de personagens, como Tiny Dancer, ou semibiográficas, como Someone Saved My Life Tonight.
Porém, seus sucessos conquistaram o mundo porque parte de sua música se aloja de modo imediato e tenaz em nossa memória. Quando ele chamou a plateia para cantar "la, la la la la la" em Crocodile Rock, não houve hesitação em toda a arena. O concerto começou com John sentado ao piano, tocando um acorde com força e esperando, conscientemente, que as pessoas entendessem – não demorou muito. O acorde foi imediatamente reconhecido como o começo de Bennie and the Jets: uma música sobre uma estrela pop para as "crianças" que é famosa tanto por sua imagem – "botas elétricas, um terno de mohair" – quanto por sua música. Ela poderia ser um ídolo, ou uma substituta, para o sujeito que está cantando sobre ela. De óculos e careca, John inicialmente se aproveitou de seu talento mais do que da aparência, depois, assim que passou a comandar as grandes audiências, divertiu-se com uma grande quantidade de trajes estranhos.
Visualmente, John está dando adeus com a extravagância de sempre. Durante pequenas pausas, trocou o terno preto de lantejoulas douradas com lapela rosa por uma jaqueta de brocado florida e calça cor-de-rosa, e depois por um robe azul elaboradamente bordado, com óculos correspondentes. Ele também se apresentou no que parecia ser um piano de cauda autônomo, que podia atravessar o palco, sob uma tela de vídeo emoldurada por um friso de destaques da carreira. Alguns dos videoclipes, como as cenas de rua de Los Angeles que passaram durante Tiny Dancer, causaram distração, enquanto que em Rocket Man, as imagens da Terra vistas do espaço foram perfeitas.
No que foi anunciado como um concerto de despedida, o destaque ficou para a quantidade de despedidas que Taupin e John já estavam escrevendo décadas atrás. Uma das únicas músicas apresentadas que não se tornou um sucesso foi Indian Sunset, canção sobre o genocídio dos nativos norte-americanos, como despedida final. A outra foi All the Girls Love Alice, um réquiem para uma adolescente lésbica promíscua. Love Lies Bleeding, com sua introdução instrumental, Funeral for a Friend, é o adeus de um músico a um amante, e Daniel, como um vídeo revelou, é o adeus a um soldado morto em combate. Candle in the Wind despediu-se de Marilyn Monroe como uma vítima do estrelato.
O final do show foi com Goodbye Yellow Brick Road, uma música de 1973 sobre como se afastar do estrelato e voltar para a fazenda: algo que John obviamente não fez. Ele conquistou a fama, manteve-a e se divertiu com ela. "Eu sentirei muito a sua falta", disse ele ao público da arena enquanto falava sobre se aposentar dos shows. Mas isso não vai acontecer tão cedo. Ele deve retornar ao Madison Square Garden mais de uma vez: em novembro e março. Por enquanto, a vida na estrada continua.
Informações sobre o evento
Elton John
O show Farewell Yellow Brick Road vai até novembro de 2019. Eltonjohn.com/tours
Por Jon Pareles