O corpo do tradicionalista Paixão Côrtes começou a ser velado no Salão Negrinho do Pastoreio do Palácio Piratini, na manhã desta terça-feira (28). Aos 91 anos, o músico morreu na tarde da última segunda (27). A causa do óbito ainda não foi divulgada. O sepultamento está previsto para as 17h desta terça no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.
Paixão Côrtes estava internado desde 18 de julho, depois de fraturar o fêmur em uma queda e passar por uma cirurgia. Em situação delicada pela idade avançada, sofreu algumas complicações pós-cirúrgicas.
Além de familiares e amigos do tradicionalista, músicos como Renato Borghetti, somados a prendas e nativistas pilchados, também foram dar adeus a Paixão. Um deles foi o mecânico Wagner Franco da Silva, 36 anos, integrante do 12° RT Piquete Paixão Côrtes.
— Estávamos acompanhando a situação dele desde cedo. Não digo que esperávamos que partisse agora, mas já vínhamos nos preparando para a despedida. Então, vim aqui prestar a última homenagem — disse Wagner, que estava pilchado, vestindo um lenço preto e portava uma bandeira do RS.
Para o mecânico, o legado do tradicionalista nunca se perderá. Pelo contrário, será expandido:
— Essa vontade dele de mostrar o gaúcho, a nossa cultura, a nossa pilcha, a nossa música. O conhecimento dele nós nunca vamos perder. Vamos divulgar ainda mais — garantiu Wagner.
Carlos Côrtes, filho de Paixão, corrobora:
— Findou o tempo do meu pai, mas não o tempo de trabalho de Paixão Côrtes. Acho que, pelo reconhecimento, pelas homenagens que estão sendo feitas, o trabalho dele deve ser pesquisado e conhecido para que se entenda como foi construída a identidade do gaúcho. Se hoje nós vemos uma criança dançando o Pezinho, é graças a ele e ao Barbosa Lessa que puderam resgatar através da música e das danças o orgulho de ser gaúcho.
Para Renato Borghetti, Paixão só deixa legado:
- É impressionante o trabalho que esse homem fez para a nossa história e para o Movimento Tradicionalista. Ele ultrapassa o tradicionalismo: mesmo quem não é de vestir bombacha o reconhece. Mesmo aos 91 anos, ele era muito inquieto, ainda estudando e indo atrás de o porquê das coisas. Isso eu acho muito bonito.
O gaiteiro ainda comentou sua relação com o tradicionalista:
- Antes de tocar gaita, tive a honra de ser bailarino dentro de seus estudos de dança. Eu o acompanhava em suas pesquisas como dançarino, enquanto ele ia recolhendo histórias e registros. Acho que ainda temos muito o que descobrir de seus estudos.
Nairo Callegaro, presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), destacou:
- É uma perda imensurável não para o Movimento Tradicionalista, mas sim para a sociedade gaúcha. Ainda mais para as pessoas que são ligadas à pesquisa do folclore e aos usos e costumes de um povo. Ele representa tudo isso. Transcende as fronteiras do Brasil, levando para o mundo o que nós somos como gaúchos. Paixão mostrou que tipo de homem vive no Sul do Brasil, resgatando o gaúcho da obscuridade.
Conforme Nairo, Paixão acreditava que o MTG deveria fazer uma releitura de seus conceitos, o que deverá ser avaliado.
– Em uma de nossas conversas, ele me disse assim: "Olha, Nairo, o Movimento Tradicionalista tem que fazer uma releitura do momento atual que vive". Aquele (momento no qual foi construído por Lessa e Paixão) foi um. Agora a sociedade tem outras exigências, é um outro contexto, é um outro momento, e nós temos que buscar o caminho de fazer essa releitura. Ele nos deixa essa pergunta, temos que buscar essa resposta. Temos que fazer essa releitura, realmente, e essa grande análise de como nós temos que nos comportar e proceder diante de todo esse legado que foi deixado por ele.