"Esteio", "referência", "fomentador de todo um universo" e até "Papa". Estes são alguns dos termos com que companheiros do tradicionalismo e outras personalidades se referem a Paixão Côrtes. Veja declarações à GaúchaZH sobre a perda de umas figuras mais importantes da cultura do Rio Grande do Sul.
— Para a cultura do Rio Grande, é um esteio que se vai. Músico, compositor, intérprete, pesquisador. Em tudo, bacanudo. Mas pra mim é mais que isso. Depois do Adelar Bertussi, no ano passado, a sensação é de perder outro irmão mais velho. E também um conterrâneo, companheiro de andanças lá em Santana do Livramento. Na entrada da nossa cidade tamvém tem uma estátua merecida para ele. — Eber Artigas, Gaúcho da Fronteira, músico.
— Pode parecer estranho falar isso, mas parece que eu perdi um pai. Eu frequentava a casa dele há décadas. Ele foi o mais importante folclorista do Rio Grande do Sul. Ponto. Barbosa Lessa tem o mesmo tamanho, mas não fosse ele ter posto pilha no Lessa para o trabalho de campo lá na década de 1950... E nunca mais parou de furungar coisas, né? Era uma coisa meio compulsiva. Falei com ele há coisa de um mês e ele falava em coisas para pesquisar. Trabalhou até o final da vida. É importante também ressaltar que ele nunca se radicalizou, não era um tradicionalista radical. Era uma cara afável, de cabeça aberta. Se em algum momento o MTG enveredou para esse caminho e se tornou uma religião, saibam que estavam contra o Papa. — Juarez Fonseca, crítico musical.
— A importância dele na nossa cultura é imensa. Foi ele quem percorreu esse caminho do gaúcho pelo Estado, registrando obras que sequer se sabe a autoria e sabe-se lá se um dia seriam descobertas, e trouxe para os dias de hoje. Se eu e tantos outros cantamos o que cantamos, muito é por conta dele. Perde toda a arte do Rio Grande do Sul. — Luiz Marenco, cantor.
— Eu era padrinho de casamento dele. Além de todas as qualidades dele como um dos maiores folcloristas do Brasil, era um amigo que tinha toda a minha admiração e confiança. Foi ele quem semeou o que são hoje 3 mil CTGs no Brasil. Dos fundadores do movimento tradicionalista, ele, Barbosa Lessa e Glauco Saraiva, se foi o último. A memória viva da música, da dança, da gastronomia... De toda a cultura gaúcha. — Rodi Borghetti, tradicionalista.
— Eu tenho lembranças muito bonitas do Paixão Côrtes da minha vida toda, de antes mesmo de eu começar a tocar gaita. Nas invernadas artísticas do CTG 35, como bailarino, lembro de ele trazendo danças regionais que havia pesquisado para resgatarmos, ensaiarmos. Essa era a missão de vida dele, pesquisar, saber e passar adiante conhecimento. Hoje o tradicionalismo nos parece uma coisa natural. Eu, por exemplo, nasci dentro. Mas é bonito pensar que o início disso tudo estava vivo até hoje. — Renato Borghetti, músico.
— Tenho ele como o grande fomentador de um universo. Algumas lembranças dele, em eventos, palestras, vêm desde criança. Me marcou muito certa vez, quando eu escrevia na Zero Hora, que ele me enviou um carta e alguns livros de pesquisa sobre folclore. Na carta, ele dizia que lia minhas colunas e que era importante eu escrever. Que nem sempre ele concordava, mas que era pra eu escrever para ele discordar. Essa é a imagem que guardei dele: de uma figura aberta para conviver com a juventude, de um pesquisador inquieto e de alguém que entende que o folclore não é algo estático. — Shana Müller, música e apresentadora.
— Vai ser muito estranho enfrentar uma Semana Farroupilha sem ele. O Paixão levava Paixão no nome não era por nada. Além de toda a importância histórica dele, ele era um monumento vivo de amor ao Rio Grande do Sul. Um dos maiores troféus da minha carreira foi ter conseguido fazer uma homenagem em vida para ele, cantando O Laçador Está Vivo em um programa pelos 90 anos. O Paixão se foi para fazer companhia ao Tio Nico, ao Glauco Saraiva, sabendo o quanto era querido. — Neto Fagundes, músico e apresentador.
— O tradicionalismo do Rio Grande do Sul perde seu maior representante. Mais do que um estudioso da cultura do nosso Estado, Paixão Côrtes era o símbolo do gaúcho e do gauchismo. Sua história se confunde com a cultura do Rio Grande, e seu legado já faz parte da vida de todos os gaúchos. Nossos sentimentos aos familiares. — José Ivo Sartori, governador do Estado.
— Como personagem, morre o homem e fica o ícone. Paixão Côrtes era uma figura impressionante pelos mais diversos aspectos. Você imagina fazer as pesquisas que ele fez sem que houvesse recurso algum para esse tipo de pesquisa, de gravadorzinho na mão Rio Grande do Sul adentro. Me impressionava, também, como ele conjugava essa ideia de passado com o universal e contemporâneo. Personificava como ninguém aquela máxima de Tolstoi: 'fale de sua aldeia e falará do mundo'. — Victor Hugo, músico e secretário estadual de Cultura.