Um dos nomes mais importantes da música regionalista e vencedor de 39 festivais, o cantor e compositor Talo Pereyra morreu na tarde desta segunda-feira (18), aos 66 anos. Estava internado com problemas respiratórios na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Conceição, em Porto Alegre, onde respirava por ajuda de ventilação mecânica.
Nascido em La Plata, na Argentina, Raul Eduardo Pereyra cresceu ouvindo tango, marchinhas militares e música clássica, gêneros cultivados em casa pelos pais. Aos 12 anos, ganhou da mãe um violão, estudou o instrumento em um conservatório, compôs a primeira música e subiu no palco pela primeira vez, no Teatro Coliseo Podestá, na cidade argentina.
Veio ao Brasil fugindo do golpe militar na Argentina em 1976, momento em que foi deposto o governo de Isabelita Perón. Então com 24 anos, seu refúgio foi Porto Alegre, alugando um quarto em uma pensão da Cidade Baixa. Aproveitou os bares do bairro boêmio para cantar música latino-americana, destacando-se entre músicos que apostavam na MPB.
A entrada na música nativista começou com um contrato no CTG 35, onde tocou por três anos. Acabou fazendo carreira na música regionalista. Participou do grupo Os Tropeiros do Ibirapuitã, no qual foi parceiro de José Claudio Machado e Leopoldo Rassier, outros nomes de destaque do tradicionalismo. Esteve presente em vários festivais e entre seus maiores sucessos estão Quem dá Mais, parceria com Vinicius Brum e Daniel Torres, e Brasilhana, parceria com Robson Barenho.
Grande parceiro de trabalho e vida do cantor, Neto Fagundes conta com emoção que conheceu Talo porque o músico era amigo de seu pai, Bagre Fagundes. Portanto, é uma amizade que cultiva desde muito cedo:
— Eu conheci ele muito criança, porque era amigo do meu pai. A gente criou uma amizade bem forte aqui em Porto Alegre. O Talo sempre foi muito famoso, lotando teatros por onde passava. Na minha vida, ele teve um papel essencial, pois foi um dos primeiros a me dar oportunidade de cantar sozinho e, pouco tempo depois, me chamou para participar de festivais. O mais marcante foi o Quarto Musicanto de Santa Rosa, em 1986, quando levei o prêmio principal por interpretar Brasilhana, música do Talo com Robson Barenho.
Sobre Brasilhana, Vinícius Brum, outro grande parceiro de Talo, afirma que a canção é uma obra definitiva na história da música gaúcha e que deve continuar influenciando o gênero por muito tempo.
— O Talo é uma figura fundamental para a música no Rio Grande do Sul. Nós fomos muito amigos e fizemos diversas parcerias juntos. Tem sido um ano muito cruel para a música gaúcha e Talo com certeza vai deixar saudade, tanto no nível pessoal, quanto no nível artístico — conta Vinícius.
Além da parceria com Neto Fagundes e Vinícius Brum, Talo Pereyra também trabalhou com outros grandes nomes do tradicionalismo, como Rui Biriva, Pedro Ortaça, Dante Ramón Ledesma e Eraci Rocha. Neto Fagundes afirma que a música gaúcha ganhou muito com as composições de Talo, principalmente pela mistura que o artista fazia com ritmos latinos, como a milonga. Se depender do membro da família Fagundes, Talo continuará vivo:
— O meu papel e da minha família é sempre lembrar do trabalho de Talo. Há algum tempo ouvi uma frase que se aplica à ocasião: os artistas só morrem mesmo quando paramos de falar deles. Portanto, o meu papel é dar continuidade à musica dele. Contar as histórias de Talo, que são várias e sempre bem humoradas, porque ele sempre foi um cara muito engraçado. Eu convivi bastante com Talo e já estou com uma baita saudade — lamentou o músico.