Se por acaso você quiser saber aonde a banda YANGOS pretende chegar com sua música de sabor regional e toque universal, o pianista César Casara tem uma resposta surpreendente:
– Queremos ser a primeira banda instrumental a tocar na Lua. Não precisa ser a primeira banda do mundo, mas gostaríamos que fosse a primeira instrumental.
Bom humor é fundamental, mas é verdade que em seus 12 anos a YANGOS nunca havia ido tão longe quanto foi em 2017. Em novembro, o quarteto esteve em Las Vegas para a entrega do Grammy Latino, ao qual concorreu na categoria de melhor álbum de raízes brasileiras por Chamamé (2017).
A vencedora foi Bruna Viola, com Melodias do Sertão – Ao Vivo, mas o grupo caxiense considerou uma vitória participar de uma semana de programação do Grammy, assistindo a apresentações, indo a festas e trocando ideias com ídolos dos mais diferentes cantos da América Latina. O visto não permitia que eles tocassem nos Estados Unidos, mas oportunizou a gravação do videoclipe de Rasguido Serrano, faixa de Chamamé. Mesmo recente, a viagem já transformou a YANGOS.
– Quando fizemos nosso primeiro ensaio na volta à Serra, mudamos o show. Hoje, buscamos oferecer uma experiência para quem está assistindo. Não é apenas um show. Tentamos fazer com que a pessoa se permita conhecer uma maneira diferente de sentir a música – explica Casara.
Apesar da longa trajetória, não é exagero dizer que a banda está recém decolando. Com quatro discos e um DVD, todos lançados de forma independente, a YANGOS é formada desde o início, em 2005, pelos mesmos músicos, que são também os compositores: Cristiano Klein (percussão), Rafael Scopel (acordeom) e Tomás Savaris (violão), além de Casara, o pianista.
Quatro anos se passaram entre o trabalho de estreia, Tangos y Milongas (2009), e o segundo, Às Pampas (2013). Depois, o ritmo foi acelerado. Em 2016, veio o disco e DVD Pampa: Pátria de Todos, com Dante Ramon Ledesma. Neste ano, foi a vez do elogiado Chamamé. E vem mais por aí. Entre janeiro e fevereiro de 2018 eles já retornam ao estúdio para gravar o quinto disco, Brasil, Sim Senhor!, projeto que foi um dos vencedores do disputado edital Natura Musical, que viabilizará o lançamento e os shows de divulgação em parceria com a Lei de Incentivo à Cultura estadual (LIC-RS).
A YANGOS não se espanta com a rapidez com que tudo está acontecendo. Precavida, tem inclusive um banco de composições do qual sairão as faixas do novo trabalho, que terá arranjos de Lucio Yanel, produtor de Chamamé. O próximo álbum tem o objetivo de apresentar a música criada no Rio Grande do Sul como parte da cultura brasileira. O plano é mirar mercados que a banda considera pouco explorados pela música gaúcha, como o Sudeste e o Nordeste do país. Por isso, Casara acredita que será “natural” deixar Caxias em algum momento, cidade que ainda é o lar da banda:
– Nos shows que realizamos nos últimos anos pelo país, é nítido que as pessoas desconhecem os ritmos que fazemos aqui. Tocamos milonga, chamamé, chacarera, um pouco de tango e fica todo mundo te olhando com cara de extraterrestre. Essa música não é da YANGOS ou do Rio Grande do Sul, mas do Brasil.
Serra vive cena efervescente
Não é um ano de consagração apenas para a YANGOS, mas para a cultura de Caxias do Sul como um todo. Dos quatro projetos do Rio Grande do Sul selecionados para o Natura Musical 2018, três são da cidade serrana e um de Pelotas. No total, a rede de curadores elegeu 33 projetos no Brasil, entre 1.618 inscritos.
Além da YANGOS, o edital vai financiar a gravação e a circulação do novo disco da banda de rock Catavento, criada em 2011, e o Festival de Música de Rua, que existe há seis anos e ocorre em Caxias e outras cidades da Serra. De Pelotas, será financiado o próximo álbum da banda Musa Híbrida e seus shows de lançamento.
Para César Casara, da YANGOS, o Natura Musical retrata um “momento incrível” da cultura caxiense, resultado de anos de organização de artistas e outros profissionais da cena local.
– Trabalhar no interior é difícil pra caramba – desabafa o músico.
Casara avalia ainda que a projeção de Caxias deve muito ao Financiamento da Arte e Cultura Caxiense (Financiarte). O orçamento do fundo da prefeitura, no entanto, caiu de R$ 2 milhões em 2016 para R$ 600 mil neste ano, gerando protestos dos artistas e incerteza sobre o futuro.