A capa do novo disco de Neto Fagundes, 54 anos, tem um recorte mostrando a foto de uma TV antiga, em cuja tela o cantor aparece em preto e branco. Puxando-se o cartão em que está essa foto, surge outra, com ele colorido, em uma tela de LED. O bem sacado artifício une duas ideias: tempo e TV. Por incrível que pareça, Neto completa esta semana 36 anos de carreira – estreou em 1981, na Califórnia da Canção Nativa.
O título do álbum, Galpão Sagrado, remete ao programa Galpão Crioulo, da RBS TV, onde se criou e que apresenta desde 2004. No encarte, ele diz que o repertório do disco foi sugestão de seu tio Nico Fagundes (1934-2015), uma coletânea de canções que figuram no cânone do regionalismo gaúcho.
A mais antiga é Cancioneiro das Coxilhas, dos Irmãos Bertussi (1960), que fecha o disco. A mais recente, que o abre, Galpão Crioulo, de Nico e Ernesto Fagundes, 2007.
Um dos grandes intérpretes do Sul, Neto dá tintas próprias a Negro da Gaita (Gilberto Carvalho/Airton Pimentel), Destino de Peão (Noel Guarany), Veterano (Antonio Augusto e Ewerton Ferreira), Baile de Fronteira (Mauro Ferreira/Luiz Carlos Borges), Bailanta do Tio Flor (Elton Saldanha), Xote da Amizade (Mario Barbará), Vozes Rurais (João de Almeida Neto) e duas que foram tema do Galpão Crioulo, Baile de Candeeiro (Sérgio Napp/Albino Manique) e Origens (Nico e Bagre Fagundes).
O mano caçula Paulinho faz a direção musical do álbum e toca todos os instrumentos (violão, guitarra, baixo, bateria e até bombo leguero, especialidade de Ernesto que, surpreendentemente, ficou de fora). O único convidado é Luizinho Corrêa, acordeonista que sabe das coisas.
Cristiano Quevedo ao vivo em Piratini
Esgotada a primeira edição, estão de volta o CD e o DVD Contraponto, de Cristiano Quevedo. A gravação ao vivo foi feita numa noite de lua cheia na Praça da República Rio-Grandense, em Piratini, terra natal dele. Um dos mais conhecidos e ativos nomes da música gauchesca,
13 discos lançados em 20 anos, multipremiado nos festivais, Quevedo fez um trabalho na medida para os fãs, roteiro de músicas bem campeiras, dançantes, vanerão, chamamê, xote, rancheira, mas sem esquecer milongas e toadas num lado mais romântico, que é outra marca dele. Mobilizando várias câmeras, o DVD dirigido por Diego Müller destaca bem a participação do público.
Na banda, despontam Guilherme Goulart (acordeom), Maykell Paiva (violão, guitarra), Jucá de Leon (percussão), Renato Popó (bateria), Guilherme Cerson (baixo), Gabriel Selvage (violão) e Alana Moraes nos vocais de apoio. No DVD são 21 músicas, entre elas Destino de Peão (Noel Guarany), Mate e Mel (Rodrigo Munari), Só dá Rancheira (Érlon Péricles), Tocando em Frente (Almir Sater/Renato Teixeira), a romântica A Luz de um Olhar (Quevedo) e Vida Gineta (Anomar Danúbio/Elton Saldanha), com a participação dos parceiros do grupo Buenas e m’Espalho Shana Müller, Angelo Franco e Érlon. O CD tem duas faixas a menos.
Elias Rezende: a estreia de um veterano
O acordeonista santa-mariense Elias Rezende já anda por aí faz tempo. Tocou em vários grupos de baile, participou dos festivais nativistas, acompanhou artistas como João Chagas Leite e João de Almeida Neto. De 2004 a 2009 rodou o Brasil com Zezé di Camargo e Luciano.
Experiência acumulada, fixou-se em Santa Maria com uma escola de música, onde além das aulas pesquisa com os alunos a história do acordeom no Brasil. Seu foco especial é o intercâmbio dos ritmos gaúchos com o baião, o tango, a bossa nova, o jazz. Mas nunca gravou um disco solo. Saindo agora, Gauchíssimo é o primeiro.
Com apoio de músicos afiados, Jair Medeiros (violão, guitarra), Miguel Tejera (baixo), Renato Casca (piano) e Sandro Bonato (bateria), Elias faz um álbum irretocável. Toca muito, é compositor inspirado e tem informação. Sai de um vanerão como Farroupilha, para uma valsa à francesa como Antônia, um tango como Nonina (todas dele), passando a Hospitaleira Vacaria (Edson Dutra) e a clássica Negrinho do Pastoreio (Barbosa Lessa), única com um trecho de letra, cantado por Pirisca Grecco. Participações também de Renato Borghetti (gaita), Pedro Kaltbach (violino), Pedrinho Figueiredo (flauta) e Maykell Paiva (violão).