Nascido no Paraná e criado no Mato Grosso do Sul, Michel Teló tem fortes influências gaúchas em sua formação musical. Inclusive, já se apresentou pilchado e até dançou invernada. Com o Grupo Tradição, levou a batida da vanera para o sertanejo, mistura que ganharia as rádios de todo o Brasil.
Músicos de grupos que integraram a tchê music apontam que Teló fazia no Tradição um som que reverberava a produção de bandas do movimento.
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– O que Michel Teló fez no grupo Tradição era o que os caras do Rio Grande do Sul poderiam ter feito – observa o radialista Marcelo Machado.
O cantor conta que acompanhou o movimento de longe e ressalta que o Tradição veio antes da tchê music.
– Inclusive, acho que o Tradição influenciou muito para eles fazerem aquilo –aponta Teló. – Como eu produzi os discos do Tradição, tive a alegria de pensar em colocar percussão baiana, percussão de forró, uma coisa mais presente mesmo, mais forte, dentro da música que a gente tocava, que realmente era um vanerão – garante.
De qualquer maneira, Teló é um dos principais responsáveis por propagar o vanerão para o resto do país.
– Se você liga a rádio hoje, percebe que a maioria das duplas de sucesso faz, praticamente, um vanerão sertanejo, que dá esse batidão gostoso e brasileiro – diz o cantor.
Em entrevista à Zero Hora por e-mail, o cantor falou de sua afinidade com a música gaúcha e comentou sobre a tchê music:
Qual a influência da música gaúcha – em especial, o vanerão – na sua formação musical?
Nasci ouvindo musicas gaúchas. Meus pais são do Rio Grande do Sul. Ouvia os Serranos, os Mirins, os Garotos de Ouro, João Almeida Neto, música nativista. Participei muito de CTG, e isso me influenciou muito a pegar essa batida do vanerão e trazer cada vez mais forte pra música sertaneja. Sempre gostei muito do vanerão, toquei durante muitos anos em bailes. E a gente foi evoluindo um pouco, trazendo algo diferente, dentro da musica que a gente tocava, misturando a vanera.
Você já se apresentou vestindo alguma indumentária gaúcha?
Já me apresentei vestindo pilcha. Já dancei em invernada, no CTG, e tocava pra turma dançar a chula. Já participei do Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria quando ainda era guri, acho que tinha uns 13 anos, e participei como adulto e tirei segundo lugar. Tenho aqui muitos troféus de encontros de gaúchos. A minha infância e a minha adolescência foram vividas, praticamente, dentro de um CTG.
Como você acompanhou a tchê music? O movimento lhe influenciou de alguma forma?
Acompanhei o movimento tchê music de longe, na verdade. Por eu ser do Mato Grosso do Sul, e na época o Tradição tocar musica sertaneja e gaúcha, a gente acompanhava de longe. Foi um movimento bacana. Nós não fazíamos parte, então para nós não mudava nada. Inclusive, acho que o Tradição influenciou muito para eles fazerem aquilo, porque veio antes da tchê music. Aquela mistura de percussão, que aconteceu a partir daquele primeiro CD ao vivo que a gente gravou em 1999, que colocamos timbal e aquela percussão da Bahia, já apresentava uma mistura muito maior. E o Tradição chegou sem tocar pilchado, enquanto os grupos do Sul começaram a também a tirar a pilcha, né. Mas nós vínhamos por fora, porque a gente não era um grupo gaúcho.
O que diferenciava o vanerão realizado pelo Tradição daquele tocado pelos grupos do Rio Grande do Sul, como Tchê Garotos e Tchê Barbaridade?
A nossa escola foi Os Serranos, Garotos de Ouro, Tchê Garotos. Nós crescemos junto com eles, sempre tocamos em muitos bailes juntos. E chegou um momento que, como produzi os discos do Tradição, tive a alegria de pensar em colocar percussão baiana, percussão de forró, uma coisa mais presente mesmo, mais forte, dentro da música que a gente tocava, que realmente era um vanerão. E isso foi a partir daquele primeiro CD ao vivo do Tradição, de 1999. Daí todos os grupos começaram a colocar a percussão, o timbal e o repinique. O pessoal já usava o pandeiro, até um surdo, mas não era tão presente. A partir daquele disco, acho que houve uma revolução nessa música. O nosso vanerão, na época, era muito parecido. A batida era a mesma, a levada do violão, da sanfona, a nossa influência sempre foi muito forte da musica gaúcha. Só que tivemos a alegria e a sacada de pegar esse ritmo alegre e trazer uma linguagem mais pop. Porque a gente sentia que ao cantar o Não chora minha china véia, que era uma dessas canções que a gente gostava, as pessoas dos grandes centros acabavam não entendendo. Então, começamos a produzir músicas como Barquinho – uma coisa mais pop, música de compositores sertanejos –, com a batida do vanerão mais moderna.
Que elementos da música gaúcha você utiliza em sua carreira solo?
O elemento da música gaúcha que uso hoje é a batida mesmo. A própria batida da bateria foi evoluindo. A musica gaúcha foi evoluindo. Antigamente, a musica gaúcha era tocada com violão, sanfona e, no máximo, um pandeiro. Daí foi entrando o contrabaixo, a bateria e, cada vez mais, se modernizando. Foi isso que a gente fez: produzimos uma levada um pouco mais pop, vamos dizer assim. Na batida do violão, colocamos um violão de aço, de uma maneira mais pop. A bateria é com a levada dos bailes, que a gente usa até hoje. Mas vai se misturando, ganhando uma cara mais popular, para que a galera compre a sua ideia, no Brasil inteiro, de norte a sul. Trouxemos um pouco da sanfona gaúcha, aquele balançado, mas com a cara um pouco mais sertaneja, lá de Goiás – aquele toque mais chorado –, e essa mistura acabou dando certo. Se você liga a rádio hoje, percebe que a maioria das duplas de sucesso faz, praticamente, um vanerão sertanejo, que dá esse batidão gostoso e brasileiro. Essa música do Brasil que é riquíssima.