Desde que ouvi falar do livro Impostora, de R.F. Kuang (Editora Intrínseca, R$ 52,65), fiquei interessada. Tanto que, assim que a obra chegou aqui em casa, furou a fila de outras leituras. Devorei em dois dias!
Na trama, Athena Liu é uma escritora de sucesso, conquistou uma legião de fãs ao abordar questões sobre seus antepassados – ela tem origem chinesa – e está prestes a ter um livro adaptado para a Netflix. Por outro lado, June Hayward, amiga e ex-colega de faculdade de Athena, lançou apenas uma obra, que foi um fracasso. Até que, um dia, Athena morre repentinamente, deixando seu último manuscrito inacabado. June resolve "melhorar" a história da falecida e lançar o livro como se fosse seu. Um dos grandes problemas: June – que agora assina Juniper Song – é uma mulher branca, sem um pingo de sangue asiático nas veias. Terminei de ler Impostora com várias questões, e confesso ainda estar digerindo a história. Como é contado em primeira pessoa, pela própria June, o leitor se sente manipulado e quase dá razão ao injustificável. Tenso e impactante!
Na mesma época em que fiz essa leitura, pipocava no "falecido" X e, posteriormente em outras redes sociais, os memes sobre Pé de Chinesa, novela inventada pelos internautas, que ganhou até abertura feita por Inteligência Artificial. Até a autora Gloria Perez entrou na brincadeira. Mas teve gente que não achou a menor graça. Na semana passada, a Folha de S. Paulo publicou um manifesto assinado por atores e atrizes de origem asiática, repudiando Pé de Chinesa:
"Adoraríamos rir com vocês, mas não sabemos rir quando uma piada toca profundamente a nossa existência.", dizia o texto, assinado por nomes como Ana Hikari, Jaqueline Sato e Bruna Aiiso.
Tudo isso me remeteu à novela Sol Nascente, que trazia o ator Luís Melo como um "japonês". Foi uma prática de yellowface, ou seja, quando pessoas sem origem asiática interpretam um personagem asiático. Muito se fala em racismo praticado contra pessoas negras, mas depois de ler Impostora, percebi que outras etnias são tão ou mais afetadas pelo desrespeito às suas origens.