Afastada das águas do Guaíba, a Restinga não foi atingida pela enchente que prejudica a vida social e econômica de outros bairros de Porto Alegre. Ainda assim, terá de esperar para sediar a 1ª Feira do Livro, realizada pela Câmara Riograndense do Livro (CRL). O evento, que seria realizado nos dias 17 e 18 de maio, movimentando a Rua Macedônia com cerca de 20 bancas de livros, foi adiado e só será remarcado quando o desânimo geral que paira no Estado diminuir.
Será a primeira vez que a Câmara Riograndense do Livro promove um evento deste tipo fora da Praça da Alfândega, onde acontece a tradicional e longeva Feira do Livro de Porto Alegre, das mais antigas do país. Presidente do Ponto de Cultura Africanidade, entidade que apoia a Feira do Livro da Restinga e promove diversas ações culturais no bairro, José Ventura lembra que o próprio setor livreiro está impossibilitado de atuar.
— Muitos livreiros ficaram com estoques debaixo d'água. Não tem clima para fazer uma atividade deste tipo, até porque as próprias escolas estão paralisadas — reforça.
Líder comunitário com décadas de atuação na Restinga, Ventura foi procurado pela Câmara Riograndense do Livro para envolver-se com a organização do evento. Além das bancas de livros, haverá um estande para autógrafos, tenda para shows, slam, contação de histórias, entre outras atividades. A promessa é de que as obras literárias serão vendidas com desconto para quem é da comunidade, variando entre 25% a 50%.
— E livros atuais, que estão sendo lançados. E todos os autores que vão autografar são da Restinga, como Neila Prestes, Mestre Geraldo do Cavaco, Professora Aline Andreoli, entre outros — diz Ventura.
Considerado uma "cria da Tinga", como a comunidade costuma chamar quem viveu e conhece os hábitos do bairro, o ator e coordenador de artes cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Jessé Oliveira foi escolhido como patrono da 1ª Feira do Livro da Restinga.
— A Restinga tem um público leitor. Na época em que eu morava lá, entre os anos 1980 e 1990, a gente lia muitos livros, revistas e jornais dentro do ônibus, no trajeto do bairro até as áreas centrais de Porto Alegre. E a Restinga, por ficar distante das áreas centrais, tem um perfil próprio. Houve estigma de ser um bairro periférico, mas existe uma pujança cultural muito grande — reflete Oliveira.
Presidente da Câmara Riograndense do Livro, Maximiliano Ledur nutria há tempos a vontade de descentralizar a Feira do Livro, levando-a até pessoas que não frequentavam esse tipo de evento.
— Com as atividades voltadas ao público da Restinga, damos vozes a autores que não chegam à região central por inúmeras razões. Também aprendemos mais sobre a cultura de cada localidade. É a oportunidade para outros setores terem acesso ao livro, ao hábito da leitura. Esse é o grande papel das feiras de modelo democrático — diz.
Além de promover diversas ações culturais na comunidade, o Ponto de Cultura Africanidade também está fazendo marmitas e tentando ajudar pessoas de bairros vizinhos inundados pela água, como Lami e Ipanema, e que foram para a Restinga procurar refúgio.
Quem quiser colaborar, pode fazer um Pix para o CNPJ 11261105000110. A entidade também está arrecadando materiais de higiene.