Uma das psicanalistas mais populares hoje no Brasil, Ana Suy consegue inserir profundas reflexões sobre a psique e as relações humanas no ambiente frenético das redes sociais. Também arregimenta fãs por causa disso. Diante de uma plateia que lotou o auditório Barbosa Lessa do Espaço Força e Luz na tarde desta quinta-feira (9), durante programação da Feira do Livro de Porto Alegre, ela deu a notícia de que está entre os semifinalistas do Prêmio Jabuti, um dos maiores concursos de literatura em língua portuguesa.
— Recebi recentemente a notícia de que A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão não só foi indicado, como é semifinalista do Jabuti e está inserido na categoria ciência. Isso em 2023. Eu realmente acho significativo. É um prazer dividir esse momento com vocês.
Em um bate-papo com a também psicanalista Diana Corso, elas falaram sobre psicanálise, ciência e amor — tema central de A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão (2022, Paidós) e de muitas análises de Ana.
Ao explicar sua surpresa pelo livro estar concorrendo ao prêmio na categoria ciência, a autora lembrou que a prática criada por Sigmund Freud no século 19 sempre foi questionada se era de fato ciência:
— Quando Freud inventa a psicanálise, o que ele deseja de fato é criar uma ciência. Mas ele encontra certas resistências. E a psicanálise não seria psicanálise se não houvesse a escrita de Freud. O próprio Freud fala que a psicanálise está aliada à ciência, mas não é propriamente. Talvez a psicanálise seja a ciência da poesia, a ciência do singular, de achar o irreplicável que cada indivíduo tem — destacou Ana.
Diana Corso ponderou que a psicanálise é uma experiência que se dá entre o analisado e o analista, mediante a troca de palavras.
— A psicanálise é uma ideia de que as palavras criam caminhos alternativos para as nossas obsessões. O neurótico é alguém que sofre de excesso de sentido. A psicanálise é um excelente editor. Faz com que o sujeito encontre sua narrativa.
Com a venda de mais de cem mil cópias de A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão, Ana admitiu que chegou a ficar incomodada ao ver o livro exposto ao lado de títulos considerados literatura de autoajuda. Mas descobriu que inseri-lo nesta categoria contribuía para as vendas:
— Comecei a receber notícias de pessoas que compravam o livro por achar que era autoajuda, mas aí descobriam que era outra coisa. Mas me agradeciam, porque o livro acabou ajudando de outra forma. Então agora eu não me incomodo mais. A autoajuda que eu acredito é a poesia.
Ao falarem sobre amor e paixão, Diana observou que existe uma idealização de que o amor acontece quando o indivíduo consegue transcender a superficialidade da paixão. Uma ilusão que o livro de Ana consegue derrubar.
— Na verdade, ao te ler, parece que o amor é quando a gente desiste dessa transcendência e decide que a gente não consegue entender o outro. E damos para o outro a nossa ignorância —constatou Diana.
Ana citou Lacan, o segundo maior nome da psicanálise depois de Freud, que disse que "Amar é dar o que não se tem". Diana completou:
— E amar é aceitar que o outro não é o que não temos.