Falando sobre o retorno de guerras, fome e governos de extrema-direita, Tabajara Ruas abriu a 69ª Feira do Livro de Porto Alegre em cerimônia na noite desta sexta-feira (27). Contrariando o costume, o escritor, cineasta e atual patrono do evento não recebeu a chave das mãos do padrinho anterior, o poeta Carlos Nejar, mas sim do escritor Airton Ortiz, homenageado em 2014.
Aos 84 anos, Nejar não pôde comparecer. Em um palco montado sob uma estrutura entre o Memorial do Rio Grande do Sul e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), Tabajara disse que o conhecimento derivado do hábito da leitura é a saída para tempos difíceis da humanidade.
— Nestes tempos novamente bárbaros, com mais uma guerra fratricida no Oriente e a escalada da ultradireita no mundo, a fome, tão presente em nossa sociedade, as pessoas desassistidas, a parca educação dada às nossas crianças, tudo herdado de um desgoverno recente.... Tudo isso me faz acreditar que quem lê sabe realmente o caminho. Para encontrar qualquer caminho, é preciso ler, pesquisar e pensar — disse, parafraseando o lema da atual edição.
Em sua fala anterior, quando subiu ao palco a convite da jornalista Tânia Carvalho, condutora da cerimônia, Tabajara agradeceu aos pais por ter herdado o gosto pela literatura.
— Vou agradecer duas pessoas que me ensinaram a ler na distante Uruguaiana: minha mãe e meu pai. Tanto gostaram de ler que deram a mim e a meus irmãos nomes inspirados em personagens de José de Alencar.
Também leu textos escritos a próprio punho. "Livros são duros, neles resvala o sarcasmo", diz o trecho de um, datado de 1982. "O aparelhinho tem quase todas as bibliotecas do mundo, sonho do Borges (Jorge Luis Borges, escritor argentino)", dizia o outro, mais recente, referindo-se ao celular.
O pedido de paz e tolerância também esteve presente no discurso de Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), associação que organiza a Feira desde 1963.
— Um dos caminhos que a humanidade mais precisa descobrir nesses dias difíceis é o da paz. Muitos livros presentes na Praça da Alfândega mostram que a tolerância é o caminho. Queremos que os livros aqui expostos cumpram com o objetivo de uma convivência respeitosa — disse Ledur, em seu segundo e último mandato à frente da Câmara.
A 69ª Feira do Livro de Porto Alegre segue até 15 de novembro. São 69 bancas expositoras de livros, entre literatura geral e infantil e juvenil. O horário de funcionamento é das 10h às 20h, todos os dias.