![Departamento de Documentação e Memória / Instituto Cultural Judaico Marc Chagall Departamento de Documentação e Memória / Instituto Cultural Judaico Marc Chagall](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/9/0/8/7/6/7/4_6099d9329ee4860/4767809_38499ec49658943.jpg?w=700)
Diretora de acervo e memória do Museu Judaico de São Paulo, a historiadora Roberta Alexandr Sundfeld levou à Chão Editora a ideia da republicação de Filipson — Memórias de uma Menina na Primeira Colônia Judaica no Rio Grande do Sul (1904-1920), de Frida Alexandr (leia reportagem aqui). O livro narra a saga da primeira colônia judaica no Rio Grande do Sul, instalada em 1904. Roberta, que é neta da autora, concedeu a seguinte entrevista por telefone, de São Paulo.
Como surgiu a ideia de fazer uma nova edição de Filipson após 56 anos?
Quem conhecia o livro me dizia: "Esse livro é muito bom, pena que está esgotado". E as pessoas ligadas ao meio acadêmico sempre falavam: "Sua avó escreveu esse livro quando as memórias ainda não eram uma coisa valorizada, e agora são". Nos últimos anos, houve uma valorização da memória, da história oral, da micro-história, da história social. No Museu Judaico, temos mais de 500 depoimentos de história oral, para você ter uma ideia. Outra coisa é que este é um livro escrito por uma mulher. É raro termos memórias femininas. Então, procurei a editora Chão porque já conhecia o trabalho delas. Falamos com a família, que gostou muito da ideia de republicar. Acho que vai ter uma boa repercussão, espero que não só entre acadêmicos. É um livro muito fácil de ser lido, qualquer um pode se interessar pelo tema.
Como foi a decisão dela de registrar suas memórias?
Minha avó contava muitas histórias para o meu pai e para o meu tio. Eles diziam: "Por que não escreve essas histórias?". Ela se trancou no quarto e ficou um tempão escrevendo. Até que um dia saiu do quarto e falou: "Está aqui o livro". Eles perguntaram: "Que livro?". E ela: "Ué, vocês não falaram para eu fazer um livro? Agora publiquem" (risos). Então, foi uma coisa bastante amadora. A gente sabe que ela gostava de escrever porque tem vários caderninhos que encontramos com alguns contos que ela tentou escrever. Quando ela viajava com meu avô, fazia pequenos diários da viagem.
Frida registra no livro memórias próprias e também relatos que ouviu de parentes e outros moradores da colônia. Ela fez alguma pesquisa ou escreveu tudo de memória?
Foi tudo de memória. Naquela época, não tinha essa coisa de sair e fazer entrevistas.
Embora seja um livro de memórias, Filipson tem uma linguagem poética. Você acha que Frida tinha um "projeto literário"? Ou foi algo mais espontâneo?
Acho que era mais espontâneo. Ela não tinha uma formação universitária que desse para ela essa capacidade. Acho que era uma coisa intuitiva, de quem leu muito e teve bons professores. Mas não que ela tivesse uma formação para isso.
A contracapa da edição original tem uma carta de Erico Verissimo a ela. Você tem alguma informação sobre esse contato entre os dois?
Meu tio, filho dela, o Marc Alexandr, trabalhava com editoração. Teve uma editora por um tempo. Ele fez o contato com o Erico, mandando os originais. Como Erico era gaúcho, acho que meu tio se sentiu à vontade para mandar.
Ela escreveu outros textos que podem vir a ser publicados?
Ela publicava também em revistas judaicas. Comigo não tem nada que dê para ser publicado. Os caderninhos são de fragmentos, não dão um texto completo. Já olhei com esse olhar, mas precisava de um pesquisador que abrisse os periódicos e fosse atrás disso. Ela era uma escritora bissexta, não tinha uma produção constante.