Imagine só você receber o apelido de um personagem famoso, por se assemelhar com as suas características e, quase 50 anos depois, poder escrever uma história para este personagem. Foi o que aconteceu com o escritor e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha, que pôde criar novas aventuras justamente para o Peninha, bem como outros icônicos personagens da Disney no livro em quadrinhos Zé Carioca Conta a História do Brasil (Editora Culturama, 112 páginas, R$ 149,90).
— Lembro até o dia em que recebi o apelido: foi em 9 de agosto de 1976, na Zero Hora. E eu fiquei revoltado com o apelido, por isso pegou. Quem era o Peninha? Era um repórter maluco e cabeludo. E quem era eu? Um repórter maluco e cabeludo. Então, o apelido era perfeito. E, hoje, eu adoro ser o Peninha — destaca o jornalista.
Com argumento, textos e roteiro de Peninha — o ser humano, não o pato —, a obra celebra os 200 anos da Independência do Brasil (7 de setembro de 1822), bem como os 80 anos do próprio Zé Carioca (24 de agosto de 1942), em um especial que conta com cinco passagens da história do país, em formato de livro em capa dura, com relevo e verniz, em um formato 21 x 28 cm. A obra já está disponível em bancas e livrarias.
Nas cinco histórias do especial, figuras e fatos históricos se misturam a famosos personagens da Disney, tecendo uma trama que revela curiosidades sobre o descobrimento, a colonização e a independência do Brasil. Além de Zé Carioca e Peninha, o especial ainda conta com a presença de Mickey, Pateta, Donald, Gastão, entre outros. E reunir essa turma toda, por mais que tenha precisado de um grande planejamento, surgiu de uma coincidência.
Peninha e Fábio Eduardo Hoffmann, diretor da Culturama, empresa de Caxias do Sul e proprietária dos direitos das histórias em quadrinhos da Disney no Brasil, pegaram juntos um avião do Rio de Janeiro a Porto Alegre e, segundo o jornalista, durante a viagem, ambos se provocaram, até que o escritor, fazendo piada com o próprio apelido, disparou:
— Comprou os direitos da Disney, mas eu sou o Peninha e tu não adquiriste os meus direitos. Mas já que é um voo longo, tu tens a oportunidade de fazer isso. E ele perguntou: "Mas os teus direitos estão à venda?". E eu respondi: "Estão sempre à venda" (risos).
Assim, durante o voo, eles conversaram sobre o vídeo que Peninha tinha acabado de gravar sobre os 80 anos do papagaio mais famoso da Disney e o jornalista sugeriu um especial chamado Zé Carioca Conta a História do Brasil, com seu próprio roteiro e, indiscutivelmente, com o pé na realidade dos fatos, mesmo que amenizados por ser uma história infantil.
— Ainda no avião, eu falei o livro inteiro para ele. E o substrato da história tinha que ser exatamente como foi, com as datas e os fatos históricos corretos. No final de cada história, sugeri um texto meu contando a história verdadeira. Quando o avião pousou em Porto Alegre, trocamos telefone e disse para o Fábio que em quatro horas eu escreveria tudo. Daí, claro, no fim foram quatro meses, mas o argumento, de fato, escrevi em quatro horas. Só que o argumento é uma coisa e o roteiro é outra — explica.
Peninha teve ajuda de Paulo Maffia, Lederly Mendonça e Gerson Luiz Borlotti Teixeira para condensar a história e inserir dentro do contexto dos personagens da Disney. Já os desenhos ficaram a cargo de Moacir Rodrigues Soares, Irineu Soares Rodrigues, Roberto Fukue, Átila de Carvalho e Marco A. Cortez. A arte-final foi feita por Verci de Mello, as letras por Lilian Mitsunaga e a cor por Fernando Ventura e Toni Caputo. A colorização da capa ficou a cargo de Cris de Alencar.
Magia nas mãos
O livro começa com Zé Carioca contando aos seus sobrinhos cinco passagens da história do país. A cada capítulo, Eduardo Bueno apresenta um texto no qual contextualiza os acontecimentos reais daquele período histórico, apontando eventos notáveis e curiosos que marcaram o passado do Brasil, desde a chegada dos "patogueses" à costa até a proclamação da independência.
Para que tudo fosse o mais verossímil possível dentro do universo dos quadrinhos, os ilustradores usaram diversas referências de fotos atuais e acervos históricos. Um exemplo é a história que retrata a Independência do Brasil. Nela, é possível ver a passagem da comitiva de Dom Pedro pela Serra do Mar, e também sua parada em Santos para comer um pão de cará. A referência utilizada foi uma ilustração da Serra do Mar, feita em 1826, por Oscar Pereira da Silva.
Todo este zelo teve como objetivo divertir, mas, principalmente, ensinar as novas gerações sobre a história do país e destacar a importância de ter um livro nas mãos, segundo Peninha:
— É óbvio que a procura pelos livros já diminuiu, é óbvio que vai continuar diminuindo, só que não pode desaparecer. E não vai desaparecer. E de que forma não vai desaparecer? Com trabalhos que seduzam, encantem e que apresentem a uma nova geração uma coisa que capture a imaginação. Então, eu me sinto muito orgulhoso de mostrar que a história do Brasil é uma aventura intensa, cheia de ação e eventos épicos, que explicam o que a gente está fazendo aqui.
Eduardo Bueno celebra o fato de ter criado uma história em que Peninha — o pato, desta vez — tem papel importante. Inclusive, conseguiu adaptar o personagem para ser o "Pero Vaz de Peninha", nome pelo qual o próprio jornalista se chama em palestras e peças. O motivo? Ele considera Pero Vaz de Caminha — tal como ele — um "gênio literário", por conta da carta que o português escreveu com as suas impressões sobre o Brasil, em 1500.
— Mas falando sério. Esse é um dos projetos que mais me deram alegria na vida. Adorei fazer, fiquei muito feliz com o resultado e acho que vou, mais uma vez, ajudar a popularizar a história do Brasil no melhor sentido — comemora.