É chegada a hora do apocalipse. Oitavo lançamento literário de Ana Paula Maia, De Cada Quinhentos Uma Alma é violento e cruel. Apesar de poder ser lida de maneira independente, a obra chega para dar prosseguimento à história iniciada em Assim na Terra como Embaixo da Terra e deflagrada, de fato, em Enterre Seus Mortos.
Retornam para protagonizar a história Bronco Gil, o ex-padre Tomás e Edgar Wilson, homem que trabalha recolhendo animais mortos. Na trama, uma estranha epidemia se alastra e, após uma série de acontecimentos inexplicáveis, o trio de anti-heróis decide lançar-se à estrada. Por força do acaso, acabam testemunhando barbáries e desafiando instituições poderosas, sem nunca deixarem de estar no encalço da morte.
— Faz tempo que estou nesse caminho e, do quinto livro para cá, nesse lugar. Inclusive, um livro anterior tem uma questão da pilha de corpos, por não ter mais onde enterrar. Talvez pressentisse que algo acontecesse, não sei. A pandemia me jogou para dentro da minha obra. E foi estranho — afirma Ana Paula.
Tendo a religião como fio condutor tanto da narrativa quanto da construção dos personagens, a autora ainda mergulha na exploração dos conceitos de bem e mal — apesar de brutalizados, os protagonistas também são humanos. Em meio a diversas teorias acerca do apocalipse, Ana Paula optou por usar a Bíblia Sagrada como referência. Acima de considerar, poeticamente falando, avassaladora a experiência de ler o título, ela também recorda como este livro influencia fortemente o cotidiano do brasileiro.
Já sobre o gosto pelo tema do “fim do mundo”, a autora não consegue determinar quando começou, mas relembra que já assistia a filmes de terror na televisão aos cinco anos de idade. Com o tempo, a ficção científica passou a integrar sua lista de interesses.
— É um lugar sombrio no qual estamos todos inseridos, que acho interessante observar e principalmente explorar na ficção. E, claro, fazer paralelos com a realidade para que o leitor vá encontrando algumas pistas — diz ela.
Mesmo que a Terra desapareça, este não é o término da saga: serão necessários mais um ou dois livros para encerrar a história, conta a escritora. Ana Paula também acumula o trabalho como roteirista da TV Globo e é responsável pela história da minissérie Desalma, cujas gravações da segunda temporada encerraram recentemente. Atualmente, ainda trabalha em um projeto para a TV, escrevendo quando a rotina permite. Mas adianta aos fãs mais ansiosos, em tom de brincadeira: ela passará — mas Edgar Wilson ficará.