Olhando de longe, Vietnã, China, Rússia, Índia, Israel, Estados Unidos, Dinamarca, Bósnia e Herzegovina e Brasil não têm quase nada em comum. Quase. Sob a perspectiva ampliada do jornalista especialista em cobertura internacional Marcelo Lins, uma fruta no café da manhã em um país asiático é lembrança das férias no Recife, e somente um entre vários detalhes que atestam: mesmo a 18 mil quilômetros de distância, sempre há algo do outro lado do planeta para nos lembrar de casa. Desafiando noções de fronteiras, o autor estreia seu primeiro livro, intitulado Um Longe Perto: Histórias de um Jornalista Nesse Mundo que Dá Voltas (Editora Agir).
A obra dá diversos mergulhos: históricos, políticos, arquitetônicos e turísticos. Sem a intenção de ser um livro de geopolítica ou para jornalistas, a narrativa chama a atenção e conta a história tal qual ela aconteceu. Fatos curiosos presenciados por Lins também são detalhados - como exemplo, o dia no qual visitou a Sibéria e acabou sendo convidado pela equipe da estação de TV local para um jantar regado a sucessivas doses de vodca, famoso destilado que, traduzido do russo, significa "aguinha".
Madrugadas
No prefácio escrito pelo também jornalista André Fran, ele exalta aquele que chama de Midas da imprensa e diz: "consegui matar a saudade de algo que nunca vivi". Segundo Lins, o trabalho nasceu de extensas madrugadas adentradas durante a pandemia, em meio ao ofício como jornalista que cobria, dentre outros assuntos, a eleição presidencial de 2020 que elegeu Joe Biden como chefe da Casa Branca.
A publicação é resultado de um encontro praticamente acidental: apesar de ser algo que já vinha maturando, foi definitivamente trazido à luz por conta de uma amiga que lançou a ideia para a editora Agir, a qual se interessou pela proposta.
— Foi uma chance de revisitar lugares que não podiam ser revisitados fisicamente naquele momento. Dava um alívio muito grande poder fazer isso, por mais que o cansaço batesse à porta. Repasso esse livro aos leitores com a intenção de que também seja um respiro para eles, e que a gente possa ver que temos muito mais proximidade com todo o mundo à nossa volta — afirma o jornalista.
Cultura
Comidas populares locais também são descritas à extensão, não por um acaso. No livro, Lins defende que a culinária é uma das melhores formas de conhecer uma população e suas tradições e origens. Isso se dá tanto pelas conversas que pubs, botecos e bares de rua proporcionam, quanto pelo fato de que dá para entender a herança francesa dos pães no Vietnã e no Rio de Janeiro.
— A cada vez que tinha uma dúvida de como conseguir mais informações sobre um país, era só sentar em um canto, parar em uma fila de alguma barraca de rua que estivesse cheia e trocar ideia com quem estivesse ali e, por meio da comida, conhecer um pouco mais daquela sociedade — conta ele.
A trajetória que se pode descobrir por meio do cheiro exalado pelo forno é tão extensa, que há um projeto de tornar isso uma produção multimídia, em parceria com Fran. Por enquanto, fala-se em tratar dos contextos políticos e históricos dos países por meio da culinária em um livro e uma série documental.
Mesmo passando por tantos países, Um Longe Perto: Histórias de um Jornalista Nesse Mundo que Dá Voltas deixa a impressão de que Lins tem mais histórias para contar. Ele admite: a seleção foi difícil, e muita coisa, deixada de lado. Não bate o martelo nem descarta a possibilidade de um segundo volume: agora, diz, espera pela recepção dos leitores para decidir se transforma o projeto em uma saga.
UM LONGE PERTO
De Marcelo Lins
Editora Agir, 240 páginas, R$ 49,90