Cormoran Strike já teve de lidar com mistérios envolvendo pernas decepadas ou então passados obscuros envolvendo uma antiga secretária. O poderoso detetive britânico, protagonista da série de livros assinados por Robert Galbraith, terá questões ainda mais complexas em Sangue Revolto. A versão em português do quinto livro da saga do personagem chega ao Brasil neste fim de semana, sob chancela da editora Rocco.
As aventuras de Strike ganharam ainda mais repercussão depois de J.K. Rowling assumir, em 2013, que tem utilizado o pseudônimo Galbraith. Na época, a empresa britânica Russells pediu desculpas após descobrir que um de seus colaboradores foi quem revelou o segredo – informação que acabou alavancando as vendas e prêmios. No caso de Sangue Revolto, inclusive, Rowling já foi premiada com o British Book Award na categoria Livro do Ano: Crime e Ficção.
O thriller de 960 páginas segue acompanhando Strike após Branco Letal. Desta vez, o detetive acaba se deslocando para a Cornualha a fim de cuidar de uma tia doente, mas a sua fama com casos policiais segue repercutindo por onde passa. Nas ruas, ele é assunto dos populares. Não seria diferente no pequeno condado do sudoeste do Reino Unido, e isso vai acabar atraindo a atenção de uma mulher que pede que ele investigue o desaparecimento da mãe dela, Margot B, que ocorreu em 1974.
Mesmo 40 anos após o sumiço, Strike decide topar o desafio, contando com a ajuda de sua sócia Robin Hellacott, que vem de um divórcio nebuloso. A dupla não mede esforço, recupera testemunhas e até rastreia documentos para descobrir o paradeiro da mulher. Aos poucos, as pistas apontam para elementos inusitados: cartas de tarô, um serial killer que se veste de mulher e testemunhas pouco convincentes.
Ao final de Sangue Revolto, o turbilhão de evidências fará o espectador se admirar novamente com a maior qualidade da série: pontas desconexas que levam a uma boa (e lógica) resolução.
Polêmica
Assim que chegou às prateleiras britânicas, em setembro de 2020, Sangue Revolto aqueceu as críticas a J.K. Rowling por transfobia. A opinião da escritora sobre identidade de gênero já havia aflorado em 2019. Em dezembro daquele ano, Rowling expressou apoio à pesquisadora Maya Forstater, que foi demitida de seu emprego no Centro de Desenvolvimento Global pelo que ela afirmou serem "ideias críticas sobre gênero". Em sua tese, Forstater criticava abertamente um projeto do governo britânico que facilitaria a pessoas transgênero mudar seu sexo legalmente.
"Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do que quiser. Durma com qualquer adulto que consinta. Viva sua melhor vida em paz e segurança", publicou Rowling sobre o caso, nas redes socais. "Mas forçar as mulheres a deixarem seus empregos por afirmarem que sexo é real? Eu apoio Maya", insistiu ela.
Em junho do ano passado, a escritora britânica voltou a ser alvo de críticas após compartilhar um artigo que falava sobre "pessoas que menstruam". "Eu tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud?" (em referência à palavra women, "mulheres" em inglês)", escreveu ela, em publicação no Twitter. Em seguida, ela insistiu na tese de que não aceita mulheres trans como "verdadeiras mulheres". De acordo com Rowling: "Se o sexo não é real, a realidade vivida das mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente suas vidas".
Com o lançamento de Sangue Revolto no Exterior, em setembro, a polêmica atingiu o seu ápice: o serial killer da obra se veste de mulher. O jornal The Telegraph criticou o uso do termo "travesti", utilizado pela escritora ao longo do livro, e fez duras ponderações sobre a forma como o personagem se desenvolve. "Os críticos da postura de Rowling sobre as questões trans só querem saber o que farão de um livro cuja moral parece ser: nunca confie em um homem em um vestido", alfinetou a publicação.
"Sangue Revolto ", de Robert Galbraith
- Editora Rocco
- 960 páginas
- Preços: R$ 99,90 (brochura) e R$ 139,90 (capa dura)
- Tradução: Ryta Vinagre