O psicanalista Contardo Calligaris morreu nesta terça-feira (30), aos 72 anos. Autor de livros como Hello, Brasil! e Outros Ensaios, escrito na década de 1990 e reeditado em 2017, e Cartas a um Jovem Terapeuta, reeditado em 2019, o escritor italiano radicado no Brasil se tornou um dos intelectuais mais influentes do país.
Calligaris estava internado desde fevereiro no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, em tratamento contra um câncer.
Nascido em junho de 1948, em Milão, o intelectual veio ao Brasil pela primeira vez em 1986, para uma série de palestras sobre psicanálise. Aqui, casou-se e passou a se dedicar à clínica e ao debate público. Desde 1999, escrevia uma coluna para o jornal Folha de S.Paulo.
Também publicou as coletâneas de colunas Terra de Ninguém, em 2004, Quinta-coluna, em 2008, e Todos Os Reis Estão Nus, em 2013. Como escritor, lançou dois volumes de ficção: O Conto do Amor, em 2008, e A Mulher de Vermelho e Branco, de 2011. Contardo foi ainda autor da peça de teatro O Homem da Tarja Preta, encenada em 2009, e criador e roteirista da série Psi, exibida pela HBO a partir de 2014.
O autor costumava dizer em suas palestras que não desejava a felicidade, mas uma vida interessante. Em entrevista a GZH, em março de 2019, Contardo explicou sua posição:
— A única vida interessante é a vida que acontece aqui e agora. Não precisa ser épico, não precisa ser extraordinário, não precisa nada. Precisa da presença efetiva de quem está vivendo.
Formado em Paris, onde teve aulas com Michel Foucault e com Jacques Lacan, Calligaris viveu uma juventude errante, que incluiu passagens por Londres e Genebra. O escritor residia em São Paulo.
Porto Alegre também havia sido incluída na geografia sentimental do escritor — ele morou na Capital nos anos 1990, época em que estava casado com a psicanalista gaúcha Eliana dos Reis.
— O Brique da Redenção ainda existe? O pessoal ainda vai lá com garrafa térmica na mão? — perguntou ao repórter, durante uma entrevista, em 2013.
Em Porto Alegre, Calligaris assumiu protagonismo nos debates sobre psicanálise. O intelectual logo se vinculou a uma geração renovadora da disciplina e ajudou a fundar a Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), em 1989. O recém-chegado se tornou o primeiro presidente da associação.
— A Appoa nasceu com esse espírito de abertura, de uma concepção muito mais ampla da psicanálise com a questão social, cultural e política. O Contardo chegou aqui com essa visão, com um pensamento à altura do seu tempo — lembra Edson Luiz André de Sousa, um dos fundadores da organização.
Em agosto do ano passado, o autor lamentou o cansaço gerado pela pandemia de coronavírus e declarou em entrevista à Rádio Gaúcha:
— Vai levar muito tempo para que a gente recupere a confiança natural no outro.