A quinta-feira (10) marca o centenário de Clarice Lispector. A data é celebrada com novos lançamentos da obra da escritora, que atravessa gerações dialogando tanto com os mais velhos quanto com uma juventude que se vê cada vez mais intrigada sobre seu nome.
Pensando nisso, GZH apresenta algumas curiosidades sobre a artista, que, em vida, carregava a fama de ser uma mulher de "mistérios". Confira:
Nacionalidade
Clarice não nasceu no Brasil. De fato, a escritora era brasileira, mas veio ao mundo em uma pequena região da Ucrânia, em plena Revolução Russa, no dia 10 de dezembro de 1920. Sua família, composta por judeus, pretendia fugir do contexto de antissemitismo que assolava a região e emigrou para o Brasil em 1922. Após alguns anos vivendo no país, sua naturalização foi concedida.
Chaya Pinkhasovna Lispector
Este era o primeiro nome da artista. Ao desembarcar no Brasil, a maior parte dos membros de sua família trocou de nome. Lispector, sobrenome de seu pai, permaneceu, mas Chaya só foi revelado após a morte da artista, que não fazia questão de mencionar sua nacionalidade ucraniana.
Profissão: escritora
Para quem conhece Clarice apenas pelas frases compartilhadas nas redes sociais (cuidado, nem todas são da autora!), pode passar em branco o fato de que ela era formada em jornalismo. Na verdade, era de suas crônicas e colunas publicadas em jornais que ela tirava o sustento principal. A artista era formada em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Seu primeiro livro foi publicado em 1943, Perto do Coração Selvagem.
Colunas femininas
A autora escreveu por um bom período de sua vida para colunas dedicadas à população feminina da época, com dicas sobre como lidar com a casa, limpar roupeiros, matar baratas, entre outras questões. Clarice, com seu olhar crítico sobre o papel da mulher na sociedade, não deixava o tom de suas narrativas se limitar às orientações domésticas, e vez ou outra incluía um questionamento que poderia incentivar suas leitoras a pensar fora da caixa, como "você gostaria mesmo de estar fazendo isso?".
Incêndio
Clarice Lispector era viciada em cigarros e remédios para dormir. Por conta deles, certa vez, quase perdeu a vida. Dormiu com um cigarro aceso e, sem perceber, o apartamento em que morava pegou fogo. Sua vizinha do outro lado da rua descobriu a situação, e a escritora foi retirada do local, que ficou destruído, com boa parte do corpo queimado. Por três dias, ela ficou à beira da morte, e passou dois meses hospitalizada. Sua mão direita foi muito prejudicada, e os médicos a teriam amputado caso sua irmã não tivesse pedido para que esperassem. Recebeu enxerto de pele e fez fisioterapia para recuperar os movimentos, que não foram ao todo recobrados.
Assistentes
Após o episódio, Clarice começou a contratar assistentes para lhe ajudar a passar para o papel suas ideias para novos livros. A última profissional que ficou no cargo, Olga Borelli, era também enfermeira, e a acompanhou até a morte.
Transcendência
Ao longo de seus escritos, Clarice comentou por diversas vezes a própria morte. Em seu último livro, A Hora da Estrela, a autora instituiu à protagonista uma pista do seu próprio futuro — os "ovários secos" de Macabéa foram lembrados, por mais de uma vez, pelo narrador da história.
Clarice Lispector morreu de câncer no ovário, em 9 de dezembro de 1977, véspera de seu aniversário de 57 anos. O jornalista Paulo Francis escreveu: "Ela me disse diversas vezes que terminaria tragicamente. Converteu-se na sua própria ficção. É o melhor epitáfio possível para Clarice".