Rubem Fonseca morreu nesta quarta-feira (15), aos 94 anos, após um infarto. Considerado um dos maiores escritores do Brasil, ele foi levado ao hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, mas não sobreviveu. A informação foi confirmada por seu genro, o colecionador Pedro Corrêa do Lago.
Poucos escritores tiveram em vida o mesmo reconhecimento que Rubem Fonseca. O autor foi sucesso de público e, ao mesmo tempo, considerado por seus pares como alguém que transformou a literatura brasileira do século 20. Entre suas obras mais conhecidas estão Feliz Ano Novo (1975), A Grande Arte (1983) e Agosto (1990).
Conhecido por sua reclusão — e consequente recusa a dar entrevistas —, a Rubem Fonseca normalmente é atribuída a fundação de uma nova era na ficção nacional, que se tornou mais urbana depois dele. Com os livros do autor, também chega ao país uma influência mais direta da literatura dos Estados Unidos.
Essa reclusão gerou anedotas. Por exemplo, há a história clássica de um repórter de TV que, cobrindo a queda do Muro de Berlim, em 1989, resolve entrevistar um brasileiro que por ali passava. Aos ser questionado sobre seu nome, o tal brasileiro responde: "José Rubem". O jornalista conversa com o escritor sem se dar conta de sua real identidade.
Com uma obra marcada pela linguagem afiada e pela violência, Zé Rubem, como era chamado pelos amigos, publicou principalmente histórias policiais, mas era um dos autores que levava o gênero — muitas vezes associado ao mero entretenimento — à alta qualidade literária. Quando estreou na literatura, nos anos 1960, com a coletânea de contos Os Prisioneiros, sua literatura chegou a ser descrita como brutalista.
O lançamento de Feliz Ano Novo, em 1975, e proibição posterior geraram uma das polêmicas mais rumorosas envolvendo um escritor no regime militar. O livro trazia cinco contos com o estilo que consagrou Fonseca, com os personagens urbanos e do submundo dos quais ele gostava de tratar, como um milionário que atropela pessoas de noite.
A obra já tinha saído há um ano e sido um best-seller quando a ditadura o proibiu, acusando o autor de atentar contra a moral e os bons costumes. Fonseca processou a União, mas o livro só voltaria às prateleiras em 1985, com a reabertura.
As dezenas de volumes de contos e romances do escritor alcançaram lugar de destaque nas livrarias, muitos deles figurando nas listas de mais vendidos. Além das estantes, alguns títulos alcançaram as telas, como Agosto (1990), que se tornou série na Rede Globo em 1993, e Bufo & Spallanzani (1986), que estreou nos cinemas em 2001.
Mineiro, Rubem nasceu em Juiz de Fora, em 11 de maio de 1925. Formado em Direito pela então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele foi para a capital carioca ainda na infância. Nos anos 1950, trabalhou como policial, entrando para a literatura apenas na década seguinte.
Venceu inúmeras vezes o Prêmio Jabuti, nas categorias de Contos, Crônicas e Romances. Também recebeu o Prêmio Camões, em 2003, e Prêmio Machado de Assis, em 2015.
O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo repercutiu a morte de Fonseca: "Um grande escritor. Talvez o nosso melhor escritor dos últimos anos. Eu era leitor e um admirador do Rubem. O melhor livro dele se chama A Grande Arte, que é um livro policial, mas tem uma importância literária maior do que isso. Ele realizava uma combinação de gênero: era policial, mas, ao mesmo tempo, era uma literatura de verdade, com importância e valor."