Diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus — que tem levado ao fechamento do varejo — a Livraria Cultura anunciou, em comunicado a seus fornecedores, a suspensão de todos os pagamentos por tempo indeterminado.
"São medidas duras, mas absolutamente necessárias para garantir a sobrevivência da Livraria Cultura nesse momento crítico. Estamos também adotando medidas severas de ajustes internos para redimensionar e conduzir nossas operações, preservando ao máximo nossas equipes. Infelizmente serão tempos de muitos sacrifícios. Precisaremos de muita união e serenidade para sairmos da crise ainda mais fortes", diz o comunicado.
A medida era esperada por editores, uma vez que a Saraiva já havia pedido a renegociação de prazos pelo mesmo motivo. Embora as redes sejam os dois principais canais de venda de livros no país, decisões semelhantes têm sido tomadas por outros livreiros e distribuidores também, gerando pânico no setor.
O cenário levou a um grupo de mais de cem editoras independentes — como Pallas, Estação Liberdade e Ubu — a divulgarem uma carta em que exigem os pagamentos devidos dos últimos meses. Eles contam que, nos últimos dias, foram informados "unilateralmente sobre suspensões de pagamentos por tempo indeterminado, prorrogações de prazos de pagamentos para faturas vencidas ou vincendas, ou, ainda, de suspensões de envios de acertos de consignação igualmente sem previsão de retomada".
As editoras esperam um cenário de catástrofe. A Todavia, por exemplo, prevê uma retração total de cerca de 50% até o fim do ano. Por isso, a casa já decidiu dividir os próximos lançamentos entre abril e maio e, a partir de junho, lançará dois títulos por mês. A editora vinha lançando seis mensalmente até aqui.
Marcos Pereira, um dos donos da Sextante e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, prevê uma retração de 70% das receitas no mercado como consequência do fechamento do varejo. O segmento livreiro já vinha enfrentado dificuldades desde que Saraiva e Cultura passaram a atrasar pagamentos, o que resultou na entrada das duas redes em recuperação judicial, no ano passado.
A Sextante e outras editoras, como Leya e Record, suspenderam seus lançamentos por tempo indeterminado.