Alguns romances já foram escritos tentando dar sentido à convulsão política que o país vive desde 2013 e o atual momento de ascensão da ultradireita nacional e do pensamento que ela representa. Nenhum deles foi muito feliz na apreensão do tema porque, escritos por autores perceptivos e com uma bagagem intelectual respeitável, entregavam-se ao exercício da análise aprofundada – que terminava, muitas vezes, com a recusa final da análise, classificando o Brasil do presente com um fenômeno por ora inapreensível. Pois Chico Buarque, em seu sexto romance, Essa Gente, consegue ser mais agudo escolhendo uma forma que dialoga de modo certeiro com o Brasil de hoje: uma narrativa fragmentada com um protagonista que assiste impassível à desagregação do Rio ao seu redor. (“Há manhãs em que desço a persiana para não ver a cidade, tal como outrora recusava encarar minha mãe doente”, escreve ele a certa altura).
Lançamento
Em "Essa Gente", Chico Buarque reconstrói o Brasil como uma farsa afetada
Vencedor do Prêmio Camões cria escritor em crise à deriva no clima político e social do país de hoje
Carlos André Moreira
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