Uma celebração à palavra marcou a abertura oficial da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, na noite desta sexta-feira (1°), na Praça da Alfândega, em Porto Alegre. Com um tom informal e caloroso de contadora de histórias, a patrona desta edição, Marô Barbieri foi empossada como a nova homenageada do evento, substituindo a patrona anterior Maria Carpi.
— É pela palavra que a gente também ama — declarou a escritora, autora de livros para crianças como Tinoca Minhoca.
A solenidade de abertura da festa das letras no Estado foi realizada no Teatro Carlos Urbim (este ano com dimensões mais modestas e localizado entre o Santander Cultural e o Memorial do Rio Grande do Sul). Aberta ao público, misturava nas cadeiras de plástico e arquibancadas de madeira figuras públicas, escritores, ex-patronos e muitos frequentadores que aproveitaram a passagem pela praça para ver a cerimônia.
A inauguração oficial começou com a cantora Liane Schüler interpretando uma música composta especialmente em homenagem aos 65 anos da Feira do Livro. Na sequência, o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Isatir Bottin Filho, fez um muito breve agradecimento aos seus apoiadores e à equipe da entidade, que ajudaram a realizar a Feira mesmo, ressaltou ele, em um quadro de crise econômica.
Bottin Filho terminou sua manifestação em menos de dois minutos, e logo a patrona de 2018, Maria Carpi, subiu ao palco, carregando um envelope preto.
— Aqui eu tenho a chave da praça, mas a palavra mágica eu só vou falar em segredo no ouvido da patrona — brincou, antes de fazer o elogio de sua sucessora:
— Antes da palavra escrita, aprendemos a palavra falada, com a peculiaridade afetiva da voz. Quem esquecerá da voz de Marô nas salas da infância? Nenhum de seus inúmeros alunos. Mas não satisfeita, Marô transferiu essa voz para a escrita e nos deu uma obra no campo da literatura infantojuvenil de grande beleza. Obrigada, Marô, bem-vinda à 65ª Feira do Livro, patrona.
Marô Barbieri abraçou a amiga e antecessora e agradeceu a homenagem:
— O lema da Feira deste ano é Curiosidade É O Que Nos Move, e curiosidade foi o que sempre me moveu na vida. E com ela cheguei a este ponto, com esta homenagem tão bonita, esta responsabilidade de representar a todos nós que amamos o livro.
Marô dedicou-se então a contar uma história retirada de uma crônica de Luis Fernando Verissimo – que, segundo ela, é uma das traduções mais acuradas da personalidade de um escritor. No texto intitulado O Suicídio, um escritor em crise resolve se enforcar em sua casa, mas a cada vez que sobe à cadeira e ajusta o laço ao redor do pescoço muda de ideia porque não consegue deixar de retocar seu bilhete de suicídio. Quando se dá por satisfeito, ele desiste do suicídio por acreditar que ali está o começo de uma boa história.
— Considero essa uma grande história sobre nossa relação, a dos trabalhadores das letras, com a palavra. E como a palavra consegue fazer com que tenhamos um significado dentro de nosso contexto. A palavra está no ar, está com todos, é democrática — disse.
Marô então abraçou de novo Maria Carpi, que sussurrou uma “palavra mágica”, passada de patrono para patrono desde a edição em que Airton Ortiz foi o homenageado, em 2014, ao ouvido da sucessora.
Na sequência, a Câmara Rio-grandense do Livro anunciou os quatro personagens celebrados com a Ordem do Jacarandás, entregue pela entidade a instituições e pessoas que contribuíram para a trajetória da Feira do Livro. Os agraciados foram a apresentadora Tânia Carvalho, a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, o jornal Correio do Povo e o poeta Carlos Nejar – este o único a não estar presente ou representado, já que deve receber a comenda durante uma de suas atividades previstas na programação deste ano.
Após a entrega da Ordem dos Jacarandás, Beatriz Araújo, secretária de cultura do Estado e representante na solenidade do governador Eduardo Leite, tomou a palavra e anunciou a intenção do governo de alterar para o próximo ano os mecanismos de financiamento público da Cultura.
— Estava conversando agora há pouco com o presidente da Câmara, o Isatir, e ele me comentou que a Feira não captou 100% do valor que tinha autorizado pela LIC, pelo segundo ano consecutivo. Temos que atualizar a nossa legislação facilitando a captação de recursos. Tenho certeza de que no ano que vem essa alteração já estará em vigor e tenho certeza de que poderemos dar mais fôlego aos trabalhadores da cultura.
No discurso mais longo da noite, o prefeito Nelson Marchezan encerrou a solenidade com uma saudação nominal a muitos dos demais políticos presentes, como os deputados Henrique Fontana, Edegar Pretto e Sebastião Melo e o vereador Adeli Sell. Fez também o elogio da Feira como um centro de pensamento e reflexão
— Quero dizer da alegria quando vejo esse lema Curiosidade É O Que Nos Move, com essa imagem desse círculo, que para mim é o contrário do que a internet representa. A internet foi um avanço tecnológico, mas muitas vezes representa um círculo ao redor de nós mesmos, no qual falamos as mesmas coisas com as mesmas pessoas, sem curiosidade real.
A Feira do Livro vai até o dia 17 deste mês.