Com o objetivo de preencher uma evidente lacuna na produção literária do Brasil, a editora Venas Abiertas, sediada em Minas Gerais, apresenta nesta sexta-feira (25) em Porto Alegre duas coletâneas que reúnem cerca de 40 escritores negros de diferentes regiões do Brasil.
Raízes – Resistência Histórica Volume II, com participação das gaúchas Ana dos Santos, Dedy Ricardo e Dóris Soares; e Ancestralidades – Escritores Negros, que conta com textos dos porto-alegrenses Duan Kissonde, José Falero, Tônio Caetano e Bruno Cardoso.
Raízes se debruça sobre o feminino, o feminismo e a realidade das mulheres negras.
– Raízes tem essa característica da negritude impregnando contos, poemas e crônicas. A escritora Conceição Evaristo usa o conceito escrevivências, que significa a vivência negra colocada na literatura – explica Dedy Ricardo, atriz e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Por sua vez, Ancestralidades percorre a masculinidade pelos escritos de homens negros.
– Tem escritores héteros, gays, trans, que abordam vários elementos que, como o nome já traz, têm a ver com quem já veio, quem está aqui e quem vai vir – aponta Tônio Caetano, escritor e especialista em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Para viabilizar as publicações, os autores investiram recursos próprios e buscaram apoio em campanhas de financiamento coletivo.
Debate
Os livros serão lançados no evento Coisa de Preto, que ocorre nesta sexta-feira, a partir das 20h, no Boteco do Paulista (Rua Riachuelo, 224, Centro Histórico). A entrada é franca e as publicações estarão à venda a R$ 40 cada. Na abertura, haverá um bate-papo com a psicóloga Taiasmin Ohnmacht e o jornalista Bruno Teixeira. Na sequência, ocorre um sarau com os escritores presentes.
A pesquisa Literatura Brasileira Contemporânea – Um Território Contestado, da UERJ, publicada em 2012, revelou que os autores de 258 romances lançados de 1990 a 2004, em sua maioria, são brancos (93,9%) e homens (72,7%).
Para Dedy Ricardo e Tônio Caetano a maior inserção da população negra nos meios artísticos está alinhada ao aumento de políticas afirmativas e à descentralização da cultura.
– À medida que políticas afirmativas proliferam na sociedade, vai se abrindo cada vez mais espaço para essas pessoas publicarem, e esses escritores enriquecem as áreas em que entram, porque trazem uma experiência diferenciada – comenta Dedy.
* Produzido por Évilin Campos