Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago (1922-2010) reinventou a vida de Fernando Pessoa, monumento da literatura portuguesa. Agora, outro escritor português chamado José, José Luís Peixoto, se dedica ao processo de transformar Saramago, monumento da literatura portuguesa, em personagem no romance Autobiografia, sobre o qual Peixoto debaterá às 19h30min de hoje com a jornalista Pilar del Río, viúva de Saramago e presidente da Fundação Cultural José Saramago.
Nono livro de ficção de Peixoto, autor de Livro (2010) e Galveias (2014), Autobiografia está sendo publicado no Brasil em uma edição exclusiva para os assinantes do clube do livro Tag: Experiências Literárias, como parte das celebrações de cinco anos da iniciativa.
A vinda do autor e de Pilar para discutir o livro, a vida e o legado de José Saramago é uma parceria do clube com a PUCRS, onde o evento será sediado.
– Há já alguns anos que tinha a ideia para este romance. Em 2017, tive oportunidade de participar numa atividade da Tag na Flip ligada ao projeto Uns e Outros, uma antologia de contos publicada pela Tag em que colaborei. Na época, expliquei resumidamente a ideia e, talvez influenciados pelo êxito dessa edição original, que então celebrava o terceiro aniversário do clube, começamos a avançar com a concretização deste projeto literário e editorial – conta Peixoto.
Romance é homenagem pessoal a Saramago
Pilar, que também participará da cerimônia de abertura da exposição Saramago: Os Pontos e a Vista, no sábado, no Farol Santander, foi a primeira leitora do livro, e é dela a aproximação da empreitada com o Ricardo Reis de Saramago.
– Pensei n’O Ano da Morte de Ricardo Reis, sabendo que cada autor escreve o seu livro e que, por isso, esse seria distinto. Senti vertigem por Peixoto, pensei que nem ele tinha ideia de onde estava se metendo... Porque uma coisa é a ficção pura e a outra é a ficção onde entra um personagem real. Sei que José Saramago teve dores de cabeça com Ricardo Reis e Pessoa, também com Jesus Cristo do Evangelho..., porque a realidade se empenha em contradizer a ficção, mas aqueles que são grandes sabem como resolver essa questão. E Peixoto demonstrou que sabe e que pode fazê-lo.
Autobiografia se passa, em sua maior parte, no ano de 1997. Por um lado, Saramago, a essa altura um gigante reconhecido das letras portuguesas, está terminando a escrita de seu Todos os Nomes. Por outro, um jovem escritor de pouco mais de 20 anos chamado José (como o autor, José Luís Peixoto), luta contra vários problemas que o impedem de avançar na carreira: lançou um primeiro livro cuja recepção não foi unânime, luta para elaborar um segundo romance, quase não tem dinheiro e quando o tem não demora a perdê-lo em mesas de jogo. Até que o editor do primeiro livro de José, Raimundo Benvindo da Silva (nome que os fãs de Saramago reconhecerão como o do protagonista de História do Cerco de Lisboa) lhe oferece um serviço que pode "desencalhá-lo": escrever uma breve biografia de Saramago. E assim, se cruzam os caminhos do iniciante (um “José” como tantos) e do autor reconhecido (tratado no livro por “Saramago”). A narrativa várias vezes se desloca desse eixo para visitar o passado ou de outro. Embora o livro seja em larga parte ficção, Peixoto admite que ele foi pensado como uma homenagem pessoal.
– A importância da presença de Saramago na minha vida foi o que primeiramente me levou à ideia de desenvolver um romance com este princípio. Conheci Saramago em 2001, quando ganhei o prêmio literário que tem o seu nome (com seu segundo romance, Nenhum Olhar). Eu tinha 26 anos; Saramago tinha ganho o Nobel havia apenas três anos. O impacto de ter privado com ele durante cerca de 10 anos, num momento em que estava a tomar decisões tão fundamentais acerca do escritor que queria ser, foi decisivo para chegar à escrita deste romance – diz o autor.
Pilar del Río e José Luís Peixoto falam sobre "Autobiografia"
Hoje, às 19h30min, no Teatro do Prédio 40 da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.681, em Porto Alegre).
Mediação do professor Paulo Ricardo Kralik, da Escola de Humanidades.
Atividade gratuita, com distribuição de senhas no local, a partir das 18h30min.
Preste atenção!
O livro Autobiografia, de José Luís Peixoto,está sendo publicado pelo clube do livro Tag e foi enviado para cerca de 30 mil assinantes de todo o país no Kit curadoria de julho.