Ignácio de Loyola Brandão, 82 anos, autor de Zero (1974) e Não Verás País Nenhum (1981) e um dos principais nomes da geração de escritores brasileiros surgida nos anos 1960 e 1970, foi eleito por unanimidade para ocupar a cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele será sucessor do sociólogo e cientista político Hélio Jaguaribe, morto em setembro do ano passado, aos 95 anos.
"Ele é um escritor puro sangue, radical. Sua obra, consagrada no Brasil e no exterior, traz um misto de alta cultura e ironia, olhar incisivo e viés experimental", afirmou em nota o presidente da Academia, Marco Lucchesi.
Nascido em Araraquara, Brandão foi jornalista e começou sua carreira no Última Hora. Para o romance Zero, ele se inspirou em histórias que não saíram no jornal por conta da censura. O livro se tornou uma das principais obras brasileiras sobre a ditadura militar - foi lançado antes na Itália, em 1974, e só um ano depois no Brasil, onde foi logo censurado.
O autor, que é cronista no jornal O Estado de S. Paulo, também publicou obras como Não Verás País Nenhum, Cabeças de Segunda-feira e O Anjo do Adeus, entre outras.
A votação foi realizada nesta quinta-feira (14), mas o resultado já era esperado, uma vez que sua candidatura afastou eventuais interessados de peso – com ele, disputaram autores desconhecidos que sempre surgem quando há uma vaga na instituição fundada por Machado de Assis.
O nome do escritor também uniu alas da ABL que costumam se interessar por candidaturas diferentes – é o caso da dos escritores e a chamada "ala dos notáveis", formada por políticos, juristas e egressos de outros ofícios fora da literatura.
A candidatura conseguiu congregar apoiadores no Rio de Janeiro, onde vive a maior parte dos imortais, e de São Paulo, onde o autor teria apoio de nomes como Celso Lafer e Lygia Fagundes Telles. O candidato também escreveu a biografia da antropóloga Ruth Cardoso (1930-2008), mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é imortal.
Além disso, os últimos dois eleitos -o cineasta Cacá Diegues e o jurista Joaquim Falcão- não eram escritores, o que abriu espaço para o novo escolhido ser alguém que viesse da literatura.