Duas das turmas mais populares da literatura infantil nacional têm encontro marcado no volume Narizinho Arrebitado, uma adaptação do primeiro livro infantil lançado por Monteiro Lobato com personagens do Sítio do Picapau Amarelo “estrelada” pelas criaturas da Turma da Mônica de Mauricio de Sousa. O livro traz o texto original de Lobato, adaptado pela professora de literatura da UFRGS Regina Zilberman, e ilustrações do próprio Mauricio mostrando Mônica e Magali como Emília e Narizinho, respectivamente.
A Menina do Narizinho Arrebitado foi o primeiro livro infantil escrito por Monteiro Lobato (1882–1948). Publicado em 1920, é um embrião da série de livros do Sítio do Picapau Amarelo, e seria mais tarde incorporado como primeiro capítulo de Reinações de Narizinho (1931).
Na história, a “menina do nariz arrebitado” vive uma fantástica aventura subaquática. Brincando na beira de um rio, Narizinho adormece e é acordada por um peixe usando fraque e cartola que se identifica como o Príncipe Escamoso, soberano do Reino das Águas Claras, que a convida para um passeio por seus domínios. Lá, Narizinho recebe tratamento de princesa, participa de um grande baile e vive algumas aventuras com sua boneca de pano Emília, ainda não dotada da capacidade de fala.
Esta edição adapta parte da história deixando espaço para ilustrações vibrantes. O projeto é capitaneado pela paulista Girassol, que pretende adaptar outras obras do escritor. Além da Mônica/Emília e da Magali/Narizinho, Cebolinha vira Pedrinho e Chovinista, o porco do Cascão, deve encarnar o Marquês de Rabicó. Uma das maiores especialistas acadêmicas do país em literatura infantil, Regina Zilberman comenta que o trabalho de casar os dois universos ocorreu naturalmente.
– Se pudéssemos fazer essa comparação, o Mauricio de Sousa é o Lobato do quadrinho. Os universos de ambos têm muitas proximidades temáticas, seus personagens são crianças com muita iniciativa, com protagonismo, e ambos lidam com a universalidade da infância que permite a identificação de muitas gerações de leitores. O Mauricio, a essas alturas, tem quase 50 anos de rodagem. Embora circule bem na escola, ele formou um público leitor por outros meios – comenta.
Obra do autor do “sítio”está em domínio público
A iniciativa é uma dentre as várias previstas para este ano pelo mercado editorial brasileiro com a entrada de toda a obra de Lobato em domínio público, expirado o prazo de 70 anos posteriores à morte do escritor.
A adaptação de Regina Zilberman não apenas condensa a história a fim de caber em um volume de apenas 64 páginas, mas também elimina algumas expressões que hoje provocam polêmica devido a seu caráter racista.
– Lobato foi um escritor que se apropriou de várias fontes, era muito permeável à cultura de massa. Essa permeabilidade é o que facilita ele ser reajustável. Ele mesmo veria que teria coisas em sua obra hoje que ficaram superadas, outras que são polêmicas. Já na primeira para a segunda versão de Narizinho Arrebitado, ele tirou trechos em que uma personagem recebe extrema-unção, porque poderia ter problema com a igreja. Essas mudanças que se pode fazer são epidérmicas, tem a ver com o próprio jeito de o Lobato escrever – afirma.