O iminente "colapso das abelhas" (ou DCC, Desordem do Colapso das Colônias) e suas alarmantes consequências para a vida humana já foram tema de artigos científicos, documentários, grandes reportagens e até de um episódio da série Black Mirror. Faltaria um grande romance se a escritora norueguesa Maja Lunde, 41 anos, não tivesse escrito, em 2015, o premiado Bienes Historie (A História das Abelhas) – por aqui, a editora Morro Branco parece não ter confiado muito no interesse dos brasileiros pelo pequeno inseto ameaçado de extinção e optou por um título mais genérico, e ligeiramente chick lit: Tudo que deixamos para trás.
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No livro, Lunde conta três histórias de épocas e cenários distintos, interconectadas, de alguma forma, com a criação de abelhas. Na Inglaterra de 1852, William é um biólogo deprimido que sonha em criar um tipo de colmeia totalmente novo, o que garantiria fama e honra para sua família e a chance de voltar a ter algum interesse pela vida. Em 2007, nos Estados Unidos, George é um apicultor lutando para manter um negócio em crise. Em um futuro pós-colapso das abelhas, a terceira história se passa na China, em 2098. A protagonista é Tao, uma jovem camponesa que enfrenta a dura rotina do trabalho de polinização manual das plantas – única alternativa para manter a produção de alimentos depois que as abelhas desapareceram.
Ainda que as abelhas e seu destino incerto ocupem o primeiro plano da narrativa, Tudo que deixamos para trás não é um panfleto ecológico. As três histórias, que se cruzam no final do livro, são tanto sobre relações humanas, principalmente as familiares, quanto sobre a interdependência entre homem e natureza. William, George e Tao depositam nos filhos a esperança de um futuro melhor. O romance parece nos dizer que muito mais do que uma abstração, o futuro dos nossos filhos (e o destino do planeta) depende, acima de tudo, daquilo que nós somos capazes de criar – ou evitar – no presente.
HOJE NA FEIRA:
Tudo que deixamos para trás
De Maja Lunde. Editora Morro Branco, 477 págs., R$ 47,90.
Painel A literatura norueguesa de Maja Lunde - nesta quarta-feira (02/11), às 18h, na Sala Oeste do Santander Cultural, com mediação de Cláudia Laitano e tradução simultânea. Autógrafos quarta-feira, às 20h, na Praça de Autógrafos.