Leandro Karnal está com entrevistas suspensas. "Devido ao excesso de compromissos e viagens", o historiador e palestrantes não está atendendo no momento a imprensa, explica um de seus assessores, que sugere uma nova data para a conversa – em fevereiro do próximo ano.
Essa agenda apertada, na qual um encaixe para entrevista pode demorar três meses, ilustra como Karnal se converteu em um dos mais requisitados intelectuais do país. No entanto, o autor logo estará disponível ao público de Porto Alegre: nesta terça-feira, às 16h, no Teatro Carlos Urbim, ele ministra a palestra Ler e viver, na qual fala sobre os benefícios e os riscos da leitura em um cotidiano com redes sociais cada vez mais presentes – para assistir à conferência, é preciso retirar senhas a partir das 12h30min, na Centro de Informações da Feira, na Praça da Alfândega. Às 17h, o escritor também autografa o livro A detração: breve ensaio sobre o maldizer, na Praça de Autógrafos.
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Com 53 anos, Karnal vive desde os 24 em São Paulo, mas suas raízes estão vinculadas ao Rio Grande do Sul. Natural de São Leopoldo, quase abandonou a formação de historiador para se dedicar à fé: foi noviço na Companhia de Jesus, mas desistiu da ideia de se tornar um religioso para concluir o curso de História, na Unisinos. Hoje, é professor da Unicamp e viaja por diferentes regiões do país para proferir palestras em variadas instituições e eventos, além de ser uma presença constante no debate público, participando de programas de rádio e televisão e mantendo uma coluna no jornal O Estado de S. Paulo. Vídeos de suas palestras têm milhões de visualizações no YouTube, e seu perfil no Facebook conta com mais de 600 mil seguidores.
Discurso sóbrio e autocrítica
Com discurso sóbrio e humor ácido, Leandro Karnal não costuma variar o tom de voz em suas palestras, e tampouco tem rompantes apaixonados ao abordar qualquer tema em entrevistas. Esse modo confiante e tranquilo de se expressar se combina com uma abordagem simples e original sobre diferentes assuntos – cita Shakespeare para falar sobre redes sociais; e Mafalda, de Quino, sobre ética –, deixando plateias hipnotizadas.
Apesar de ser conhecido por não ceder a radicalismos, Karnal não fica em cima do muro quando é questionado sobre questões polêmicas. Em uma edição do programa Roda Viva (Cultura), em julho, respondeu sobre o projeto Escola sem Partido: "Sou acusado de ser sempre um contemporizador, um diplomata, mas é preciso dizer: Escola sem Partido é uma asneira sem tamanho". Apesar da declaração decidida, não quebrou em momento algum o costumeiro tom equilibrado.
Mas Karnal também tem seus críticos. Ele mesmo é um deles. Em sua estreia como colunista no Estadão, em julho, não poupou a si mesmo e apontou a vaidade envolvida ao aceitar escrever semanalmente em um dos maiores jornais do país. "Enfim, meu narciso se entregava", escreveu. No mesmo texto ainda refletiu sobre seu ofício como intelectual público: "Busco dizer coisas com humor e inteligência (só busco, oh, meus incipientes patrulheiros). Sem humor e sem inteligência, a vida fica insuportavelmente monótona".
*ZERO HORA