Um dos bate-papos mais concorridos desta edição da Feira do Livro de Porto Alegre ocorreu neste domingo, no Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo. Acomodando mais de uma centena de ouvintes, o Auditório Barbosa Lessa pareceu pequeno para os leitores ávidos por ouvir o escritor português Valter Hugo Mãe falar de seu sétimo romance, Homens imprudentemente poéticos.
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Com o espaço lotado, dezenas de pessoas precisaram se aglomerar na Tenda de Pasárgada, na Praça da Alfândega, para acompanhar a transmissão do encontro ao vivo por um telão. O autor foi apresentado pelos escritores Luiz Paulo Faccioli e Cíntia Moscovich, também patrona da 62ª edição da Feira.
– Hugo Mãe já tem ares de superstar em Porto Alegre. Temos que levá-lo a se apresentar no Gigantinho da próxima vez – brincou Faccioli.
O novo livro de Hugo Mãe se passa no Japão antigo, em uma pequena aldeia localizada ao lado de uma floresta, para a qual homens se encaminham ao suicídio.
– Há no Japão uma maturação da consciência humana que se difere da nossa – disse Mãe. – Meu livro é uma meditação sobre como um lugar com uma história terrível, de uma guerrilha constante, conseguiu nos últimos 150 anos alcançar um nível de aceitação do outro que o transformou em um dos países que acolhem de maneira mais sensível os visitantes.
O suicídio, tabu no Ocidente, é um dos temas importantes do romance de Hugo Mãe.
– Os japoneses não estigmatizam o suicida, não veem o suicídio como desespero, mas como completude. No Ocidente, não somos preparados para encarar a morte como um momento de plenitude – disse o escritor.
Ao falar de uma das personagens do livro, a menina cega Matsu, Hugo Mãe também deu uma das chaves para a compreensão da narrativa. Ele explicou que a impossibilidade de enxergar da garota se relaciona com o ofício criativo da literatura:
– A arte é um exercício de cegueira, de buscar algo que não se é capaz enxergar. Não consigo ver, mas posso escrever para levantar uma hipótese do que é esse algo ao qual não tenho acesso.