Os horrores do Holocausto, durante a II Guerra, renderam uma farta bibliografia documental e ficcional, como se o inominável que ronda o episódio histórico precisasse ser constantemente ressignificado, de tão inapreensível. Em A bibliotecária de Auschwitz, o jornalista espanhol Antonio G. Iturbe cria um romance baseado em um fato pouco conhecido: a vida de Dita Adlerova, uma menina checa de 14 anos que cuidou de uma coleção de oito livros no bloco 31 de Auschwitz, onde funcionava uma escola informal. Liderados pelo inspirador diretor Fredy Hirsch (outra figura histórica, que aparece com seu nome real), o barracão em meio ao horror do campo de concentração abrigava professores e crianças que praticavam o que seria um duplo delito caso fossem descobertos: realizavam aulas, embora estivessem autorizadas apenas a atividades recreativas, e lidavam com livros, que eram objetos proibidos aos prisioneiros.
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Dita é uma espécie de heroína mirim: instigada pelas lições de vida de Hirsch, figura que a fascina do início ao fim, arrisca a própria existência ao carregar os livros de um lado para outro, escondidos em bolsos internos de seu vestido. Quando os volumes não estão sendo utilizados pelos professores nas aulas clandestinas, a garota se dedica a realizar, carinhosamente, pequenos reparos nas surradas encadernações. Em meio às situações-limite que vive no campo, os relatos daquelas páginas inspiram-na a encontrar forças para seguir adiante.
Apesar do tema doloroso, A bibliotecária de Auschwitz é um romance escrito em estilo fluido, com ritmo que o credencia a uma adaptação cinematográfica. Ao final da trama, Iturbe acrescenta um relato pessoal de seu encontro com Dita Kraus, a personagem que inspirou a ficção e que hoje vive em Israel. Leia e tente não ficar com os olhos marejados nas últimas páginas da trama.
A bibliotecária de Auschwitz
De Antonio G. Iturbe
Editora Agir, 368 páginas, tradução de Dênia Sad, R$ 40,90
Encontro com o autor sábado, às 18h, na Sala Leste do Santander Cultural (Rua 7 de Setembro, 1.028). Sessão de autógrafos, às 20h, na Praça de Autógrafos.