— Como que os seus pais se conheceram?
Esta é a pergunta que inicia o espetáculo Portátil e, a partir dela, tudo pode acontecer.
A peça, que foi idealizada pelo time do canal Porta dos Fundos, consiste, basicamente, em uma grande improvisação no palco a partir de informações básicas cedidas por um espectador voluntário da plateia. A apresentação, que fez sucesso no eixo Rio-São Paulo e passou até por Portugal, chega a Porto Alegre pela primeira vez neste domingo (17), em sessão no Auditório Araújo Vianna, a partir das 20h. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.
— Por algum motivo que não sei explicar, a gente nunca tinha vindo ao Rio Grande do Sul, que é a terra do meu pai, uma terra que eu digo que é minha. Passei a minha infância inteira em Passo Fundo, em Pelotas. Tenho o coração bem gaúcho, e essa é uma terra que eu amo muito — diz João Vicente de Castro, um dos idealizadores de Portátil e filho do jornalista passo-fundense Tarso de Castro (1941-1991), um dos fundadores do jornal O Pasquim, que marcou a resistência à ditadura militar.
João Vicente desenvolveu o projeto da peça ao de lado Gregorio Duvivier, seu sócio no Porta dos Fundos, colega de elenco e melhor amigo, e Barbara Duvivier (irmã de Gregorio), que dirige o espetáculo. Desde 2015, ano de nascimento da peça, foram mais de 200 montagens, todas diferentes entre si. A promessa é que, a cada história apresentada pelo público, há uma encenação inédita. O propósito é mostrar que a vida de qualquer um pode virar um espetáculo.
À mercê de uma história que não conhecem antes de subir ao palco — além de João Vicente e Gregorio, o time ainda é composto por Gustavo Miranda, Luciana Paes e o músico Andres Giraldo — podem interpretar uma peça que, geralmente, é de comédia, mas também pode descambar para o drama. Eles vão ao encontro do que o momento e o enredo apresentado pedem. Com isso, precisam estar preparados para qualquer coisa.
Um dos momentos mais curiosos vivenciados pelos artistas em uma apresentação foi quando uma pessoa da plateia subiu ao palco e respondeu à primeira pergunta feita pelos artistas com uma história que surpreendeu a todos. Ela contou uma trama que, se fizesse parte do roteiro de uma novela, seria classificada como forçada e inverossímil. E não é para menos.
— A gente perguntou para uma moça: "Como que os seus pais se conheceram?". Ela, então, respondeu: "O meu pai foi na casa da minha mãe para matar o meu tio, mas aí a minha mãe convenceu ele a não matar. Eles se apaixonaram e se casaram" — conta João Vicente, aos risos, lembrando da situação e destacando que já depararam com diversos outros casos que soam absurdos, mas que fazem parte da vida real.
De verdade
Se a ideia parece difícil o bastante para ser executada em um esquete, por exemplo, o desafio é ainda maior quando a história do voluntário da plateia se torna a peça inteira. Ou seja, é mais ou menos uma hora de espetáculo totalmente em cima de um mesmo ponto de partida. Independentemente de qual seja, eles vão até o fim com a trama — criando até uma trilha sonora única, instantaneamente. Esta aposta em apenas uma pessoa é arriscada, porque, afinal, é um teatro cheio para ver aquela narrativa. E se der errado?
— Nunca pegamos alguma história que não tenha rendido, porque temos uma estrutura que salva as histórias. Nunca deixamos ninguém insatisfeito, que eu saiba, porque temos muito respeito pela pessoa. É uma homenagem para a plateia — conta Gregorio. — Sempre buscamos transformar a vida da pessoa em uma narrativa épica e comovente. É comédia, mas tem um pouco de drama e, sobretudo, poesia.
Para isso, antes de começar a narrar a história em si, os artistas decidem quem vai representar o pai, a mãe — ou dois pais e duas mães —, o protagonista e os demais personagens. A dramaturgia, apesar de não saber por qual caminho irá seguir, tenta encaixar a vivência do espectador escolhido dentro de uma estrutura, que começa abordando um sonho de vida do protagonista, passando por um longo flashback para mostrar como os pais dele se encontraram e, por fim, volta ao presente. Mas, afinal, como se preparar para conseguir bolar uma história totalmente nova na hora, ao vivo, em cima do palco? Gregorio explica:
— Não fazemos exatamente um ensaio. Fazemos um treino, como chamamos no improviso. É uma espécie de simulação do que pode acontecer no palco. Então, pensamos em cenas e fazemos exercícios para ganhar rapidez e sintonia. Fizemos isso por meses para bolar o formato e, antes da peça, fazemos alguns jogos para ganhar agilidade.
João Vicente complementa:
— E, na hora do espetáculo, começamos com uma folha em branco, que é o cenário. A partir dele, criamos tudo. Eu posso ser o protagonista como eu posso ser uma árvore em uma cena. Eu posso ser qualquer coisa.
Mas nem todas as histórias são escolhidas. Depois de anos de estrada, os artistas já conhecem de cara quem sobe ao palco apenas para fazer gracinhas e conquistar 15 segundos de fama, contando situações inverídicas. As escolhidas, geralmente, são aquelas que transmitem sinceridade e cativam a plateia. Estas são as que vão conseguir estruturar o espetáculo com eficiência e ajudar a transformar aquela hora em uma experiência prazerosa para todos.
— Vale dizer que perguntamos quem quer contar história. Isso é importante, principalmente para o público gaúcho, que é mais tímido. Ninguém é obrigado a nada — tranquiliza João Vicente, garantindo que apenas quem levanta o braço pode ser escolhido.
Ou seja, para quem quiser ir apenas para rir da dramatização da vida alheia, o ambiente é seguro.
Portátil
- Neste domingo (17), às 20h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos, em segundo lote, a partir de R$ 95 (solidário, mediante doação de 1kg de alimento não perecível) ou R$ 180 (inteiro).
- Pontos de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, somente em dinheiro; e bilheteria do Araújo Vianna, aberta somente duas horas antes do início do show. Ponto de venda com taxa: pela plataforma Sympla.
- Abertura da casa: 18h30min. Classificação: 16 anos
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante sobre o valor inteiro.