O Ói Nóis Aqui Traveiz está lançando um projeto do tamanho de sua história. O grupo de teatro, que está com 44 anos de existência, anunciou Arte Pública, iniciativa que ocupará a Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1.186), sede dos artistas, assim como outros espaços culturais ao longo dos próximos meses. A ideia é deixar a cultura ainda mais acessível, chegando a crianças, jovens e adultos, desde pessoas que nunca tiveram contato com o teatro até profissionais ligados a coletivos longevos das artes da cena. Tudo isso com atividades gratuitas, presenciais e virtuais, e acessíveis, utilizando Libras, além de um site com recursos para baixa visão e daltonismo.
— Para ser artista, tem que insistir muito, né? Por isso, a gente usa muito a palavra resistir. Porque, na realidade, as condições no país nunca foram muito favoráveis para os artistas, para a criação, para a cultura, principalmente nesses últimos anos, com retrocesso social e com o desmonte da cultura — afirma Paulo Flores, um dos fundadores do grupo.
Por isso, o projeto terá todas as suas atividades gratuitas, garantindo que o público de baixa renda possa acessar e usufruir os ambientes de aprendizado e qualificação. A iniciativa se inicia com os trabalhos mais recentes do grupo: Violeta Parra — Uma Atuadora, nesta terça-feira (6), além dos dias 4 e 8 de outubro; Desmontagem Evocando os Mortos — Poéticas da Experiência, em 12 e 13 de setembro; Quase Corpos: Episódio 1 — A Última Gravação, em 19 e 20, 26 e 27 deste mês; e, por fim, a performance Manifesto de uma Mulher de Teatro, em 3 e 10 de outubro.
Arte Pública se divide em quatro eixos — Território, Memória, Criação e Formação. O primeiro conta com trocas de saberes e residências artísticas da Terreira da Tribo, que criará uma rede em parceria com outras regiões culturais do Estado, incluindo Capital, Maquiné e Triunfo. Já no eixo Memória serão realizadas ações para a musealização do acervo do grupo, assim como pesquisa, sistematização e publicação sobre a história de iniciativas teatrais com longa trajetória no Brasil.
O projeto se desdobra ainda em Criação e Formação, que propõem a pesquisa e o desenvolvimento de um novo espetáculo do grupo e seu compartilhamento por meio de laboratórios de criação e temporada de apresentações. Ainda dentro deste eixo, serão realizadas ações de iniciação, formação, capacitação e qualificação teatral, com oficinas na Terreira da Tribo e em bairros populares de Porto Alegre ao longo deste ano.
Este longo trabalho, que começa oficialmente nesta terça-feira, então, busca celebrar os artistas teatrais, que, além das dificuldades enfrentadas na desvalorização do setor cultural, ainda tiveram que lidar com o fechamento das casas de espetáculos, por conta da pandemia de covid-19, nos últimos dois anos — até por isso, é importante destacar que o projeto ainda prevê residência artística remunerada.
— A gente tem sofrido bastante. Então, temos que perseverar, acho que essa é a palavra, para fazer arte no país. E essa ideia da arte pública está no DNA do grupo desde a sua origem. O Ói Nóis Aqui Traveiz é um dos pioneiros no teatro de rua no país e, então, a ideia de levar o teatro para a maior parte da população está presente desde o começo, nos anos 1970 — diz Flores.
Para todos
O grupo teatral, desde a sua fundação, em 1978, prega que a arte pública deve ser acessível a todos, independentemente de classe, etnia, raça, gênero e demais marcadores sociais. Por isso, ainda dentro do projeto, que se desdobra por um ano, também serão realizadas oficinas de iniciação teatral e formação de grupos culturais em locais com grande carência econômica, dentro de espaços que fomentam diferentes atividades para as suas comunidades.
Dentro do eixo Criação e Formação, está previsto o webinário Do Jogo à Cena – Construindo Aprendizagens, realizado com a participação de professores e pesquisadores de todo o país ao final das oficinas, e, ainda, o webinário Processos Criativos em Teatro – Dialogando com Nossos Mestres, com artistas e pesquisadores de teatro no Brasil, previsto para ocorrer na época da estreia do novo espetáculo de teatro de rua do Ói Nóis Aqui Traveiz. Ambos ocorrerão de forma virtual com transmissão direta pela internet.
A troca com grupos brasileiros também é parte importante do Arte Pública. E, por isso, o intercâmbio com os grupos teatrais longevos será realizado nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, com entrevistas e rodas de conversas sobre o processo de preservação da memória imaterial dos mais importantes grupos destas cidades.
Em São Paulo, os pesquisadores da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz visitarão as sedes dos grupos Teatro Oficina, Sobrevento, Engenho Teatral e Pombas Urbanas. No Rio de Janeiro, o trabalho será realizado nas sedes do Tá na Rua e do Ensaio Aberto. Já em Belo Horizonte, o encontro será realizado no Galpão Cine-Horto, sede do Grupo Galpão. Como desdobramento desta ação, será realizado, em ambiente virtual, o webinário Tear – Tecendo a Rede de Memória, que contará com a participação de representantes dos sete grupos teatrais visitados.
— Eu acho que a gente se junta às vozes de milhões de brasileiros que querem um novo país. Então, a nossa proposta é essa proposta de arte pública, de ser um alavancador de futuros outros projetos, onde a questão da democracia e da descentralização da arte esteja em destaque. Porque é nessa arte que a gente acredita, uma arte que chegue a todos — destaca Flores.
Mostra de repertório do Ói Nóis Aqui Traveiz no projeto Arte Pública
As atividades a seguir serão sempre às 20h na Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1.186, bairro São Geraldo), em Porto Alegre, com entrada franca, por ordem de chegada. Outras informações no Instagram do grupo.
- Estreia da mostra nesta terça-feira (6), às 20h, com Violeta Parra - Uma Atuadora. Distribuição de senhas a partir das 19h. Haverá sessões também nos dias 4 e 11 de outubro.
Próximas atrações:
- Dias 12 e 13 de setembro: Desmontagem Evocando os Mortos — Poéticas da Experiência
- Dias 19 e 20, 26 e 27 de setembro: Quase Corpos: Episódio 1 - A Última Gravação
- Dias 3 e 10 de outubro - Performance Manifesto de uma Mulher de Teatro