O Mistério de Irma Vap foi adaptada no Brasil pela primeira vez em 1986, tendo Marco Nanini e Ney Latorraca como seus protagonistas e direção de Marília Pêra. O sucesso foi imediato. Considerada como integrante do gênero besteirol, entrou para o Guinness Book como a peça que mais tempo ficou em cartaz com o mesmo elenco — foram 11 anos. O espetáculo ainda gerou um filme, em 2006, com os dois atores principais e com direção de Carla Camurati: Irma Vap – O Retorno.
Uma nova geração, agora, assumiu as rédeas da peça criada por Charles Ludlam, em 1984, e mostra que o fenômeno segue vivo — ao contrário de Irma Vap. Desde 2019, Luis Miranda e Mateus Solano são as novas caras do espetáculo, desdobrando-se em vários personagens no palco. Sob a batuta de Jorge Farjalla, a montagem volta a Porto Alegre neste final de semana, quase três anos depois de sua primeira passagem por aqui. As duas apresentações serão no Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8.787, bairro Sarandi) no sábado (16), às 21h, e no domingo (17), às 18h.
Com classificação indicativa para 12 anos e 100 minutos de duração, O Mistério de Irma Vap está com ingressos à venda em Sympla a partir de R$ 100 — as entradas também poderão ser adquiridas na bilheteria do Teatro do Sesi, duas horas antes do início de cada sessão. Há desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.
Mesmo com o histórico de sucesso construído pelos seus antecessores, o time da nova montagem de O Mistério de Irma Vap decidiu fugir do que já havia sido feito.
— Não tem absolutamente nada a ver com a versão do Nanini e do Ney — garante Luis Miranda.
O ator enfatiza que, ao contrário da montagem original, que era feita em uma mansão mal-assombrada, esta acontece em um trem fantasma, dentro de um parque de diversões, a partir de uma proposta de Farjalla. Porém, a marca registrada da versão oitentista, que é a grande quantidade de troca de roupas, se mantém — e com ainda mais revezamento de figurinos no palco.
— É o que dá essa loucura, essa alucinação, e faz com que a peça pareça uma gincana com atletismo. Isso é uma assinatura muito forte desse espetáculo — explica o ator.
A comédia criada por Ludlam, que consiste em um melodrama vitoriano, passa-se em um lugar remoto da Inglaterra e conta a história de Lady Enid, a nova esposa do excêntrico Lord Edgar. Ela tem que se adaptar a viver em uma mansão mal-assombrada pelo fantasma da primeira companheira de seu marido, Irma Vap — um anagrama para "vampira". Na casa, a governanta assume a posição de rival da recém-chegada, que vai comer o pão que o diabo amassou para ficar com o seu amor.
A nova versão, além de se passar em outro ambiente, mistura novas e antigas referências, dos filmes de terror, como Pague para Entrar, Reze para Sair, de Tobe Hooper, e Rebecca, a Mulher Inesquecível, de Alfred Hitchcock, com a estética dos anos 1980, do videoclipe de Thriller, de Michael Jackson, e várias citações de Shakespeare, principalmente de Hamlet.
— Desfragmentamos todas as camadas do texto para ver o que estava por trás dele e ressignificar a obra — conta Farjalla.
O espetáculo, segundo o diretor, tem a proposta de expor aos olhos do público a troca de roupas, mas também enfatizar ainda mais o texto e o trabalho do ator:
— Eu quero mostrar para o espectador o teatro como uma grande ilusão e o ator como um grande mago, que pode criar tudo na frente do público e fazê-lo acreditar naquela situação.
O retorno
A pandemia de covid-19 interrompeu a trajetória de sucesso da terceira temporada da nova montagem de O Mistério de Irma Vap. Apesar disso, o espetáculo, que está retornando aos palcos, já conseguiu levar aos teatros mais de 80 mil pessoas e segue o seu caminho de sucesso.
— Muito emocionante voltar aos palcos e mais emocionante ainda perceber que não éramos só nós do palco que estávamos com saudade, mas também a plateia, que tem lotado as apresentações — diz Mateus Solano.
Já para Miranda, colocar a peça na estrada e subir novamente aos palcos é um "marco de resistência":
— É a gente fazendo com que a cultura exista em um país que está fazendo vários ataques a ela. A alegria de voltar aos palcos é a alegria de estar vivo mesmo. De ter passado pela pandemia depois de ver tantos amigos indo embora. E com toda a negligência aplicada por esse governo genocida, a gente fica se sentindo privilegiado de poder voltar aos palcos e de continuar uma trajetória que foi interrompida.
Para quem foi conferir o espetáculo em 2019, o primeiro ano desta nova montagem, Solano diz que não houve grandes mudanças para a apresentação desde final de semana, mas garante que quem for assistir novamente não irá se arrepender:
— O teatro é que nem vinho: só melhora. Portanto, vai ficando cada vez mais azeitado, mais divertido de fazer e de assistir.
O seu colega de cena, por outro lado, já enxerga este retorno como "um novo espetáculo", por todos estarem em um novo momento:
— As pessoas estão carentes de entretenimento, de sair de casa, e a gente está carente do público. Então, a gente tá matando essas duas carências ao mesmo tempo. E quem assistiu ao espetáculo vai notar uma modificação. Acho que a gente está mais afiado, mais agudo, mais direto. É um espetáculo mais preciso, acho que isso o público vai gostar muito de ver.
Solano complementa:
— Eu acredito que o teatro é extremamente importante no momento cultural, sanitário, político e social em que vivemos. O teatro é lugar de aglomeração de pessoas com ideias diferentes. E isso ganha uma enorme importância nos tempos em que vivemos.