Certa vez, o diretor e ator Caco Coelho recebeu uma inusitada solicitação de Lima Duarte: "Posso te declamar Vieira?". Teve início ali uma conversa sobre Padre Antônio Vieira (1608-1697), missionário jesuíta que foi um dos maiores autores da língua portuguesa, conhecido sobretudo por seus Sermões. Então, Lima fez uma segunda pergunta: "Já leste História do Futuro?".
Caco não tinha lido, mas, depois de garimpar duas edições, se surpreendeu com a ressonância desta obra de Padre Vieira, escrita há cerca de 300 anos, no Brasil de hoje. História do Futuro virou o título da peça que estreia nesta quinta (18) e terá sessões diárias até domingo (21), às 20h, no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa. Caco interpreta um narrador que contracena com um profeta, papel de Lima Duarte, em participação gravada em vídeo e projetada na cena. A montagem tem direção cênica de Eduardo Severino e supervisão de direção de Vera Holtz.
— Mais do que visionário, esse livro coloca Vieira quase como um cientista. Fala de um país rico em ouro, prata e esmeraldas, e abençoado por Deus. Mas com uma gente terrível. Ele leu isso nas Escrituras — diz Caco, que comemora 40 anos de carreira.
A peça é composta por três momentos. O primeiro mostra a sedução do homem pelo futuro, ou seja, a tentativa de antecipar o porvir; o segundo aborda a previsão sobre uma pátria abençoada, exceto pela sua gente; e o terceiro fala da esperança de prosperidade.
O choque de realidade provocado pela leitura motivou a encenação da peça mesmo sem apoio financeiro, segundo Caco:
— Entendi que aquilo tinha uma urgência, é para nos jogar uma lucidez. A atividade do artista é ajudar a ver, não é condicionar o olhar. Então, esse tipo de situação tem de ser usada como candeeiro. É um dos textos mais belos da literatura portuguesa, senão o mais belo.
A primeira impressão de quem assistiu aos ensaios, diz ele, foi de incredulidade:
— Perguntaram quanto eu mexi no texto do Vieira. Mas foi muito pouca coisa.
História do Futuro
- De quinta (18) a domingo (21), às 20h.
- Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Av. Independência, 75).
- Ingressos: R$ 40, à venda uma hora antes de cada sessão na bilheteria do teatro ou na Loja da Boa Causa, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa.