Eduardo Bueno, o Peninha, estreia sua peça em Porto Alegre nesta sexta (15), mas é bom avisar que ele não faz teatro. É uma peça no sentido de que "Peninha é uma peça, uma figura", como ele gosta de explicar. O espetáculo é um stand-up sobre História do Brasil, uma ideia que só poderia funcionar se a estrela fosse o cara que fez disso um assunto pop nos anos 1990 com uma série de best-sellers, além de ter rendido alguma controvérsia entre narrativa jornalística e historiográfica.
Há dois anos, Peninha foi para uma nova plataforma, o YouTube, onde lança vídeos sobre a História do país com seu estilo debochado e espontâneo – ele jura que grava todos os episódios na primeira tentativa. É a única rede social de que participa, e é um sucesso. Seu canal, o Buenas Ideias, já teve 20,8 milhões de visualizações desde abril de 2017 e conta hoje com 387 mil inscritos. O vídeo mais assistido é sobre a ditadura militar (750 mil visualizações) e o segundo, sobre a primeira favela do Brasil (525 mil visualizações). Nitroglicerina pura. Quem será que o odeia mais hoje: os corneteiros da internet ou os historiadores acadêmicos?
– Cara, minha decepção é cada vez maior porque tem diminuído o ódio a mim. Tento cultivar meus desafetos, mas devo ter problema de memória, pois me esqueço deles. Com relação aos historiadores acadêmicos, todos saíram em minha defesa. Eric Hobsbawm me deu um autógrafo: "De um historiador para outro". Quando me perguntam se sou historiador, digo: "Olha, não sou, mas não é o que dizia o Eric Hobsbawm".
Não Vai Cair no Enem – Uma Peça, o espetáculo que ele apresenta de hoje a domingo no Theatro São Pedro, é uma extensão do canal do YouTube. Ambos têm produção da Flocks, empresa do casseta-e-planeta Marcelo Madureira. Uma análise revelou que muitos frequentadores do Buenas Ideias fazem maratonas, emendando um episódio no outro, e que, portanto, haveria público em potencial para um show com 75 minutos de duração.
No palco, Peninha narra sete episódios da História do Brasil – o descobrimento, o Brasil holandês, Zumbi dos Palmares, Tiradentes etc. – mais um escolhido especificamente para cada sessão. Em Porto Alegre, um dos temas que podem pintar, claro, é a Revolução Farroupilha, mas de resto é tudo surpresa. Cada episódio tem um figurino diferente, o que torna esse um stand-up singular, com cenografia, iluminação e trilha sonora. Ester Jablonski assina a coordenação-geral com Peninha.
Já foram cinco sessões, três no Rio e duas em São Paulo, e ele garante que jamais repetiu o texto, para desespero da produção. Peninha não arreda o pé, pois Bob Dylan, flor de sua obsessão, tampouco faz um show igual a outro. Outro princípio dylaniano é começar o espetáculo na hora marcada, desafiando o jeitinho brasileiro de chegar atrasado. Sim, ele incorpora os personagens das histórias, mas de uma forma que causaria calafrios em Stanislávski:
– É aquela coisa bem esquizofrênica. O personagem discute com o Peninha e vice-versa. Chega a ter três camadas de metalinguagem. É o Eduardo Bueno, o Peninha ou o personagem? Tem esse jogo de espelhos que faço intuitivamente.
Em sua jornada pelos livros, pela imprensa e pela televisão, Peninha acabou virando, ele mesmo, um ídolo. Em um trajeto a pé pelo bairro Moinhos de Vento, pode ser abordado por até 12 pessoas, como já contabilizou ("Vou ter que andar com um saco de supermercado na cabeça"). Como se fosse um protagonista de Italo Calvino, ele divide seu self entre Peninha, o performático, e Eduardo Bueno, o escritor. Mas a verdade é que um não vive sem o outro, e quem o conhece sabe que, antes mesmo de chegar ao palco, ele já era um personagem.
– Na época em que saíram meus livros sobre História do Brasil, teve um burburinho na comunidade acadêmica. Mas eu tinha consciência do que tinha feito. Era para ser uma abordagem pop que remetesse à bibliografia especializada. O canal do YouTube também é assim. Quem quiser saber mais, vai ler os livros. Tu vais acreditar em mim? Nem eu acredito em mim – diz.
NÃO VAI CAIR NO ENEM – UMA PEÇA
Desta sexta-feira (15) a domingo (17), às 21h. Duração: 75 minutos. Classificação: 14 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 40 (galeria), R$ 60 (camarote lateral), R$ 70 (camarote central) e R$ 100 (plateia e cadeiras extras). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.
À venda no site teatrosaopedro.com.br (com taxas) e na bilheteria do teatro (sexta, a partir das 13h, e sábado e domingo, a partir das 15h).