Tudo começa com uma imagem. Assim é o processo de criação de Gustavo Silva, coreógrafo convidado do novo espetáculo da Cia. Municipal de Dança de Porto Alegre, Pedra Verde-Muiraquitã, com estreia neste sábado (15) e reprise domingo (16), às 20h, no Teatro Renascença.
A imagem, nesse caso, é a de um indígena com cocar trajando paletó. Em um mundo no qual tanta coisa já foi inventada, a "fusão" é a estratégia criativa preferida do coreógrafo. Mas o indígena de paletó não representa uma tese sobre tradição e modernidade. Silva prefere sentir, e não tanto explicar:
– Essa imagem estava batendo na minha cabeça há tempos. Quando a lancei aos bailarinos, eles acharam linda.
Dividida em sete cenas, a coreografia estende um fio entre as danças indígenas de diferentes países, chegando aos movimentos tribais das festas rave urbanas. Do Brasil vem a referência do título: o muiraquitã, também conhecido como pedra-verde, é um amuleto em formato animal atribuído aos povos indígenas da região do baixo rio Amazonas.
Dentro do espírito da fusão, uma das cenas conta com o indian step, movimento da dança break no estilo top rock, geralmente executado em pé. A trilha sonora, editada também pelo coreógrafo, segue a ideia de remixagem a partir de sons tão diversos quanto música indígena e urbana; rock; bombo leguero; a canção Like It or Not, de Bob Moses; e um duelo de didjeridus, instrumentos de sopro característicos dos aborígenes australianos.
Conhecido por seu trabalho em danças urbanas com a companhia New School Dreams, Silva trata seus espetáculos como estudos sobre elementos de criação. Grande vencedor do Prêmio Açorianos de Dança em 2014, Retrógrado em 6D enfocava a videodança. Iluminus, destaque do Açorianos de 2016, era um estudo de luz.
Mas nada é tão constante no trabalho do coreógrafo quanto a ideia de jogo. Em uma sequência de Pedra Verde-Muiraquitã, ele não orientou os bailarinos com qualquer movimento, apenas indicou "metas": se acontecer tal coisa, faça isso; se não acontecer, faça aquilo. O recurso abre espaço para o inesperado, tornando cada apresentação singular. Estão no elenco Andressa Pereira, Driko Oliveira, Everton Nunes, Juliana Coutinho, Kleo Di Santys, Leonardo Maia e Paula Finn.
– Está sendo mágico trocar com a Cia. Municipal – diz o coreógrafo. – Em meu trabalho, procuro não individualizar, e sim trabalhar mais o coletivo, os jogos coreográficos e de composição.
Airton Tomazzoni, diretor-geral da Cia. Municipal de Dança, entende que o espetáculo questiona o que é a civilização do século 21, como conviver com o multiculturalismo e como vozes dissonantes dialogam e se aproximam:
– Pedra Verde faz um mergulho na Babilônia da cultura contemporânea globalizada, na qual as identidades estão misturadas e combinadas, desafiando as complexidades das representações e as ciladas dos rótulos apressados.
Novo trabalho da Cia. Jovem
O ano de 2018 está sendo movimentado para a companhia, cuja "categoria de base", a Cia. Jovem de Dança, estreia o espetáculo E Se nos Calam nesta sexta (14), às 20h, também no Teatro Renascença.
Coreografado por Driko Oliveira, o trabalho de danças urbana e contemporânea fala dos sentimentos de medo e tristeza quando algo caro ao ser humano é reprimido. Para Tomazzoni, a Cia. Municipal de Dança – que inclui o grupo profissional, o grupo jovem e as Escolas Preparatórias de Dança – alcançou excelência em curto período e hoje é reconhecida como patrimônio da cidade:
– As expectativas são grandes depois de um ano com quatro importantes estreias, parceria nacional, turnê internacional e com a Cia. Jovem se firmando como um núcleo de profissionalização de jovens bailarinos.
Programe-se
"PEDRA VERDE-MUIRAQUITÃ", DA CIA. MUNICIPAL DE DANÇA
Neste sábado (15) e domingo (16), às 20h. Ingressos: R$ 40.
“E SE NOS CALAM”, DA CIA. JOVEM DE DANÇA
Nesta sexta (14), às 20h. Ingressos: R$ 30.
Ambos os espetáculos ocorrem no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre, com ingressos à venda na bilheteria uma hora antes do início de cada sessão.