Em Boca no Mundo, o personagem de Carlos Mödinger convida o espectador a uma incursão por passado e presente para, quem sabe, suscitar novos futuros. Com estreia nesta sexta (8), às 20h, na Casa de Teatro (Rua Garibaldi, 853), o solo da Cia. Rústica, com direção de Patrícia Fagundes, exercita o teatro como estado de encontro e celebra a palavra como instrumento de transformação.
A montagem tem apresentações às sextas-feiras e sábados até o próximo final de semana. Depois, muda de local e segue em temporada, às quartas e quintas, no auditório do Instituto Goethe de Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112). A partir de passagens autobiográficas, pesquisa e imaginação, o texto aborda temáticas como migrações, identidade brasileira, memórias de família e referências teóricas.
Fatos como a proibição da língua alemã no Brasil durante a II Guerra e o trauma que isso deixou nos imigrantes que aqui viviam são formas de diálogo e aproximação com o público, sem que se glorifique um grupo imigrante específico: a partir de histórias aparentemente particulares, Boca no Mundo leva o espectador a visitar a própria memória, a colocar em movimento as próprias ideias.
— Não tenho interesse em ficar no terreno da minha vida, que não é tão interessante assim - brinca Mödinger. - O que pretendo é partir dessas experiências, que conheço porque as vivi e vivo, e ampliá-las para além de mim.
Teatro como encontro
No palco, Mödinger cerca-se de livros, dispõe palavras e ideias em um quadro branco, conversa olho no olho com a plateia.
A montagem reforça a cumplicidade entre ator e público e o poder da palavra falada, "encarnada", como um "instrumento para assimilar e mudar nosso modo de ser e agir no mundo", explica Mödinger. A dramaturgia concebida como uma conferência reflete sua busca por unir a atuação e a docência - ele leciona Teatro na Uergs.
A diretora Patrícia Fagundes, amiga e parceira artística de Mödinger desde os anos 1990, situa a peça dentro do que chama de poética da festividade:
– É a ideia do teatro como um estado de encontro, um tipo de arte que não acontece no palco, nem na plateia, mas no entre.
Em tempos de desesperança, nossos pontos de contato podem nos levar através da tormenta.
– Tem uma frase do dramaturgo Valère Novarina que incorporamos: "A poesia nunca foi tão política". Tem essa dimensão de pensar o individual em relação ao social e do quanto é importante não esquecer o passado para perceber o presente e imaginar outros futuros - conclui Patrícia.
BOCA NO MUNDO
PRIMEIRA TEMPORADA
De hoje a 16 de junho. Sextas e sábados, às 20h, na Casa de Teatro de Porto Alegre (Rua Garibaldi, 853).
SEGUNDA TEMPORADA
De 20 a 28 de junho. Quartas e quintas, às 20h, no Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112).
Ingressos a R$ 30 na bilheteria dos locais ou antecipados pelo site entreatosdivulga.com.br.