É sempre temerário resumir uma obra de arte em uma simples mensagem, mas a atriz Arlete Cunha não tem dúvida sobre o que deseja transmitir ao público no sarau poético-musical In Cantus de Hilda Hilst:
– Leiam Hilda Hilst! As pessoas falam muito sobre ela, mas nem sempre conhecem sua produção. O que ela escreveu nos diz muito como seres humanos.
Estreado no mês passado, o novo trabalho de Arlete, que completa 35 anos de carreira em 2017, chega em um momento de redescoberta da poeta, ficcionista e dramaturga (1930 – 2004). No final do ano passado, a jornalista Paula Dip reuniu a correspondência entre Hilda e Caio Fernando Abreu no livro Numa Hora Assim Escura (José Olympio). Em abril deste ano, a Companhia das Letras lançou, em um só volume, a poesia completa da autora, incluindo materiais inéditos – em 2018, será a vez de sua prosa completa. No Exterior, a editora Palgrave Macmillan anuncia para setembro a primeira coleção de ensaios críticos sobre Hilda em inglês: Essays on Hilda Hilst – Between Brazil and World Literature, organizada por Adam Morris e Bruno Carvalho.
Mas a admiração de Arlete pela obra da autora não é de hoje. Começou ainda em 2002, em Campinas (SP), quando descobriu livros de Hilda na casa do ator, diretor e pesquisador Carlos Simioni durante um trabalho com o Lume Teatro. Depois, a atriz levou a obra da escritora para a cena diversas vezes, incluindo uma participação no espetáculo Hilda Hilst In Claustro (2004), do Depósito de Teatro. Apresentado no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, o trabalho lhe valeu o Prêmio Açorianos de melhor atriz daquele ano.
O sarau In Cantus de Hilda Hilst, que terá novas sessões hoje e no dia 18, às 20h30min, no Von Teese – High Tea & Cocktail Bar, faz parte de uma retomada na carreira de Arlete, que ficou praticamente afastada da vida artística durante sete anos para cuidar de sua mãe, falecida em 2014. Desde então, envolveu-se com o espetáculo In-Visíveis, concebido em colaboração com pessoas em situação de rua, e substituiu a atriz Sandra Steil, morta em 2015, no espetáculo Medeia Vozes, do Ói Nóis Aqui Traveiz, grupo de cuja trajetória Arlete participou intensamente.
Baseado nos poemas e entrevistas da autora, o sarau sobre Hilda, que tem direção de Eduardo Kraemer (do grupo Teatrofídico), aborda temas como morte, Deus, a relação com o pai e amor. O teor erótico que marcou parte representativa de sua produção figura como coadjuvante. O que encanta Arlete é a tentativa de Hilda em "compreender o incompreensível":
– Ela disse em uma entrevista: "De uma certa forma nos deram uma compreensão para entender a vida, mas a gente não consegue". Essa busca pelo inalcançável, pelo que não conseguimos explicar, me toca. Ela teve muitos amores platônicos, que se tornaram matéria-prima para a criação. É preciso estar apaixonada para criar.
A Hilda de Arlete não estará só em cena. O ator Jairo Klein fará uma participação na pele de Fernando Pessoa, um dos interlocutores poéticos da autora. Poemas musicados por Zeca Baleiro (registrados no disco Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé, de 2006) serão interpretados por Cecé Pereira (voz) e Diego Schütz (piano eletrônico). A apresentação do dia 18 contará com participação da cantora Valéria Houston.
Arlete quer levar o sarau adiante, mas já está de olho na prosa de Hilda, que deve render um novo trabalho. Entre seus desejos, está o de passar alguns dias na Casa do Sol, em Campinas, onde a autora morou:
– Quero abraçar a figueira mitológica que tem lá. Dizem que o Caio Fernando Abreu fez três pedidos e foi atendido.
IN CANTUS DE HILDA HILST
Nesta terça-feira (11/7) e dia 18/7, às 20h30min.
Von Teese – High Tea & Cocktail Bar (Rua Bento Figueiredo, 32), fone (51) 3028-4908, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20 (pagamento em dinheiro). Reservas podem ser feitas pelo e-mail contato@vonteese.com e são válidas até as 20h. Depois, os lugares disponíveis serão liberados por ordem de chegada.