Igreja, polícia, Estado, família: nenhuma destas instituições escapou das letras das canções de Cabeça Dinossauro (1986), icônico disco dos Titãs que completou 30 anos em 2016. Com a constatação de que o álbum segue relevante do ponto de vista artístico, mas tristemente atual com respeito à realidade brasileira retratada, o espetáculo Cabeça (Um Documentário Cênico) chega a Porto Alegre, dentro do 12º Festival Palco Giratório, com sessões nesta terça (23) e quarta-feira (24), às 20h, no Teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa.
Na produção da companhia carioca Complexo Duplo, oito atores-músicos – mesmo número que a formação clássica dos Titãs – executam o disco ao vivo, em meio a recursos cênicos que contextualizam as faixas em seu tempo, evidenciando a relação com o presente. O idealizador do projeto, Felipe Vidal (que levou o Prêmio Shell do Rio de Janeiro, ao lado de Luciano Moreira, pela direção musical), avalia que o Brasil evoluiu em diferentes aspectos nestes 30 anos, mas tem a impressão de que agora "estamos caindo em um buraco ainda mais fundo do que em 1986":
– Sabíamos que Cabeça Dinossauro tinha essa potência, mas quando criamos a peça nos demos conta ainda mais das semelhanças da república de então com o momento que vivemos hoje: naquela época, também estava no poder um vice-presidente do PMDB não eleito, e o movimento pelas diretas estava na ordem do dia.
A criação de Cabeça, o espetáculo, contou com relatos pessoais dos atores, que em sua maioria eram, nos anos 1980, adolescentes descobrindo a música por meio dos LPs e das rádios. Segundo Vidal, espectadores que viveram aquela época costumam levar seus filhos ao teatro para compartilhar as lembranças com eles – a recomendação etária é 16 anos.
O trabalho integra uma trilogia da Complexo Duplo dedicada à música de protesto que teve início com Contra o Vento (Um Musicaos), de 2015, sobre a Tropicália e o Solar da Fossa, pensão no Rio onde moraram artistas como Caetano Veloso, Gal Costa e Paulinho da Viola. Em junho, o grupo começará a criar a terceira e última parte, Catarse (Uma Anti-Ópera), que abordará o rap, o hip-hop e o funk.
Vidal prefere não rotular o formato dos espetáculos da chamada Trilogia Paramusical, que levam a música para o palco de uma forma diferente do que o público costuma esperar:
– Trabalhamos a música em cena, executada pelos atores, mas não são musicais como os espectadores entendem este formato a partir da Broadway. Não é nosso foco.
A única classificação à qual a companhia deseja se filiar é a do teatro documental, vertente que tem ganhado força na cena mundial nos últimos anos. Reforçando este aspecto, o espetáculo vai virar um documentário cinematográfico: um filme sobre a trajetória da peça está em fase de captação, com lançamento planejado para 2018.
CABEÇA (UM DOCUMENTÁRIO CÊNICO)
Nesta terça (23) e quarta-feira (24), às 20h. Duração: 110 minutos (incluindo intervalo de 10 minutos). Recomendação: 16 anos
Teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa (Independência, 75), fone (51) 3214-8255, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 10 (comerciários e dependentes com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários e dependentes com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
Pontos de venda: bilheteria do Sesc Centro (Alberto Bins, 665), de segundas a sextas, das 8h as 19h45, e até às 15h para a apresentação do dia, e aos sábados, das 8h às 13h. Se houver disponibilidade, na bilheteria de cada teatro, uma hora antes da sessão.